16 de abril de 2010

Nota de Esclarecimento – Jornalista Rogério Borges

Uma crônica de minha autoria publicada em O POPULAR no dia 7 de abril gerou polêmica no Amapá, estado aludido no texto. Recebi, em meu email pessoal, e também por meio de comentários em meu blog, diversas reações iradas ao trabalho, tachando-o de desinformado, ignorante e preconceituoso. Muitas dessas manifestações referiam-se à crônica como uma matéria jornalística ou um artigo de opinião. Quero, portanto, prestar os devidos esclarecimentos não só aos leitores deste jornal, como também à população amapaense que se sentiu ofendida.

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que nunca houve a intenção de atacar o povo do Amapá. Na crônica, quando “é posta em dúvida” a existência do Estado, obviamente que se tratava de uma afirmação fantasiosa, uma vez que é impensável alguém dizer, seriamente, que determinada unidade da nação não existe. Seria o negar o óbvio ou defender que o mar não é salgado ou que o Sol gira em torno da Terra. Quem quer que diga que o Amapá não existe, mesmo em uma conversa informal, só pode estar brincando com seu interlocutor. Pelo menos é assim que eu encararia se alguém me dissesse ou escrevesse que Goiás não existe.

Ao dizer, logo no início do texto, que “duvidava” da existência do Amapá, faço automaticamente o convite ao leitor para sair, em alguma medida, da realidade. O absurdo da afirmação suspende os planos da lógica no restante da leitura. Esta, aliás, é a dinâmica da crônica, gênero híbrido que mistura o real e o ficcional em uma narrativa que foge dos parâmetros tradicionais do jornalismo. Como um texto que mistura discursos, a crônica busca referências na realidade para, justamente, subvertê-las de alguma maneira ou então supreender seus leitores com o elemento inesperado, da ironia e da fantasia. Isso não ocorre, por exemplo, em reportagens e artigos de opinião, restritos que estão à busca do relato da realidade palpável.

Ao tomar o Amapá como tema de meu texto, o objetivo não era denegrir o Estado e sim ironizar, a partir dele, mazelas que são de todos nós brasileiros, do Rio Grande do Sul ao Amazonas, do Ceará ao Acre, de São Paulo a Goiás. Quando digo que os escândalos políticos não existem no Amapá, estou salientando exatamente o contrário, que eles existem em toda parte, indiscriminadamente, tanto que cito um político que tem se envolvido em vários deles nos últimos tempos. Quando falo da goleada do Goiás sobre o São José, estou, na verdade, pegando no pé do time goiano, que tem dificuldade em vencer seus adversários regionais, numa provocação caseira.

Quando se publica um texto, a reação do leitor é legítima, desde que dentro dos parâmetros mínimos de civilidade. Entre os muitos comentários recebidos, vários são críticas pertinentes, que precisam ser levadas em conta. Aqui faço um mea culpa por ter, mesmo que involuntariamente, atingido a identidade de cidadãos amapaenses e agradeço as mensagens que ressaltam o erro cometido, pelo qual peço desculpas. Mesmo o gênero crônica, como muitos disseram, não permite excessos e me penitencio por aqueles que tenha cometido.

Há, porém, mensagens – infelizmente em maior número –, que partiram para ataques pessoais, desqualificando a mim e a meu trabalho de forma chula e irresponsável. Entre essas manifestações de desequilíbrio, algumas mencionam até ameaças físicas. Lamento profundamente que tanta gente só encontre o xingamento como o melhor argumento para defender sua terra. Em redes sociais, comentários deram lugar à incitação ao ódio, o que é lamentável, muito mais que qualquer crônica equivocada.

Entendo que a difusão do texto no Amapá como foi feita, sem a devida contextualização, de forma sensacionalista, por meio de um recorte de jornal escaneado que retira todo o contexto da publicação original do texto – que é impresso na página do horóscopo e dos quadrinhos, mostrando seu viés literário – tenha contribuído para a percepção de que se tratava de uma agressão gratuita. Na internet, as pessoas se sentem mais corajosas para ameaçar e ofender. Em muitos dos recados deixados, os autores até admitem que estão escrevendo por comentários ouvidos e não pela leitura do texto em si.

Àqueles que criticaram o texto, agradeço. Àqueles que se sentiram ofendidos pela crônica, peço desculpas. Àqueles que me endereçaram ofensas, não tenho nada a dizer.

P.S.: Este é um artigo de opinião e não uma crônica. Portanto, não há nada fictício aqui.

Uma versão deste artigo será publicada no jornal O Popular

Fonte: www.rogeriopborges.blogspot.com

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