14 de abril de 2010

Já foi tarde

O ex-governador Waldez oficializou sua renúncia ao cargo em 02 de abril último. Pretende subir aos céus, onde estará sentado a direita do pai todo poderoso. Interpretando a parábola, WG candidatar-se-á ao senado – éter e éden da política nacional – e, se eleito, fará dupla com o padrinho Sarney, manda-chuva do pedaço. Waldez poderá ser importante reforço para a manutenção da fama que o Senado arrasta. Experiência não lhe falta.

Pois, apenas documentou o que era patente. Ao assumir em 2003, o então governador já iniciava a renunciar. Renunciou, quando franqueou a base de apoio para o que de pior tinha na política local, afora algumas exceções que logo abandonaram a nau sem rumo. Renunciou ao distanciar as práticas de governo das promessas de palanque. Renunciou, ao sucumbir silenciosamente aos escândalos promovidos pelos amigos do alheio – e seus também – nas finanças do governo. E, após cada incêndio administrativo, diferente da mitológica fênix, não renascia das cinzas; apenas renunciava mais um pouco.

Fundador e mantenedor da Harmonia, título que se traduz em falta de vontade de governar soberanamente para o povo, o ex-governador contemplou raros, amigos e aliados de ocasião. Subvertendo o princípio da causalidade, embora sem conhecê-lo, imaginou bastar harmonizar os Poderes para que, por obra do acaso, a sociedade usufruísse de bem-estar. Ao escolher a causa errada, colheu efeitos devastadores: concentração de riqueza, corrupção e solapamento das condições comunitárias básicas (educação, saúde, energia, água, transportes, habitação, emprego). Não percebeu (?) que harmonizar com dinheiro e obséquios é abdicar de governar. Espelho, espelho meu, há no Amapá um governador mais tolo do que eu?

De tolo o ex não tem nada! Como em qualquer feudo, opulência e riqueza foram privativas dos Senhores, restando a distribuição parcimoniosa dos favores apenas aos sequazes. Como em toda corte corrompida, o brilho e o luxo couberam à nobreza, restando agrura e aflição à plebe. Como em toda tirania, a injustiça de dar mais a quem tem mais, e a crueldade de ser insensível as dores do mundo, minaram a confiança do povo. O butim foi fausto. A lei de Gerson imperou. Mateus, primeiro os meus!

Dizendo-se municipalista, o ex deixou Santana à míngua; doou os destinos das populações de Serra e Pedra Branca às sanguessugas do subsolo; olhou para a gente do interior pela cara do prefeito de plantão. Rotulando-se democrático, patrulhou velada e tenazmente a fonte de cada voz destoante; comprou a mídia no afã de alugar a consciência coletiva. Na promessa de desenvolver, arrasou a capacidade de investimento do Amapá. Afirmando que acabaria com a economia do contracheque, atrelou o Estado como nunca, a massa salarial oficial. Acreditando ser cristão, foi tão pouco fraterno e solidário com seus irmãos em Cristo que até a Igreja rebelou-se. De tudo o que disse, escreveu errado e por linhas tortas. Não confie em ninguém com mais de trinta anos; não confie em ninguém com mais de trinta dinheiros…
As duas faces da mesma moeda. Ao embarcar no cargo, Waldez exercitou ao largo a tarefa de informar a má saúde financeira do governo que havia recebido; dois anos de lamúrias a tentar justificar a inépcia do gestor. Ao apear, nenhuma palavra acerca do desastre que se abate sobre o erário. Acredita que a parceria existente com o substituto, e o silêncio deste sobre o tema, o livrarão da autoria do caos institucional que se avizinha.

Nos últimos dias de Pompéia, a algazarra dos eventos de beija-mão não abafou os gritos e sussurros de dor. No silêncio do fim de festa, uma boa certeza para a maioria que nunca foi convidada: Acabou! Na lápide do desgoverno, o epitáfio que resume todo o infortúnio coletivo: Já foi tarde!

Por Ruy Smith – Deputado Estadual

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