1 de abril de 2010

Grotesco: paciente morto é deixado na chuva no Hospital de Santana

O caso ocorreu na noite da última terça-feira, 30, e foi denunciado na manhã de ontem, 31, durante inspeção no Hospital Estadual de Santana, realizado pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Amapá e pelo Sindicato da Saúde (SINDSAÚDE).

De acordo com as denuncias apuradas pelo presidente da CDH/AL, deputado estadual Camilo Capiberibe (PSB/AP) e pelo coordenador do SINDSAUDE Dorinaldo Malafaia, um jovem de 22 anos com sintomas da gripe AH1N1 teria conseguido chegar de bicicleta até em frente ao Hospital de Santana por volta das 9h30 da noite e depois de ataque fulminante acabou caindo e foi a óbito.

O fato poderia passar despercebido não fossem os procedimentos adotados depois do falecimento do jovem que pode ter sido vítima de gripe suína. “Colocaram o cadáver no necrotério que está sendo reformado e deixaram o corpo pegando chuva. O pior é que os familiares, revoltados com a situação, queriam linchar os trabalhadores”, denunciou uma enfermeira que preferiu não se identificar.

Indagado pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e pelo Sindicato de Saúde sobre o que teria acontecido com o cadáver, o administrador do Hospital, Fernando Cegado admitiu que o fato ocorreu, mas em sua versão ele teria orientado os maqueiros a levar o cadáver para o bicicletário que estaria coberto e teria espaço. Cegado então afirmou que os trabalhadores não seguiram sua orientação e que por isso mandou demitir os maqueiros que colocaram o corpo do jovem no necrotério do Hospital.

Superlotação - No setor de pediatria cada leito estava sendo dividido por duas crianças com acompanhantes. Num dos casos existe um bebê com pneumonia e outro com rotavírus no mesmo leito. “Eles estão sujeito a infecção hospitalar”, alertou Dorinaldo Malafaia.

No setor onde fica a maternidade não é diferente e em muitas ocasiões mulheres grávidas tem que dividir o mesmo leito hospitalar.

Questionado pelo deputado estadual sobre a situação da pediatria, o administrador disse que é “normal” por causa da quantidade de moradores do município de Santana, e que na tarde desta quarta-feira, seria inaugurado o Pronto Atendimento Infantil com 13 leitos. “Mas isso não resolverá a situação em que hoje se encontra a pediatria, alivia, mas é um mero paliativo”, disse Camilo, ao cobrar explicações para diversas obras abandonadas, como a da Maternidade que está parada há mais de dois anos que pela estrutura poderia ter impacto importante na qualidade do atendimento ao povo santanense, mas não foi concluída.

“O que inviabiliza esta obra é a incompetência e a falta de compromisso com o povo de Santana do governador Waldez e do Secretário de Saúde Pedro Paulo Dias de Carvalho”, declarou o deputado durante visita na área em que seria a Maternidade.
O deputado do PSB se irritou ao saber que há recursos da ordem de R$ 12 milhões para investimentos em um projeto de revitalização do Hospital de Santana e o governador Waldez e o Secretário Pedro Paulo Dias de Carvalho, apesar de estarem há sete anos no poder, foram incapazes de tocar a obra.

Nos corredores do hospital, a reclamação dos pacientes foi generalizada. “Aqui agente procura medicamento e não encontra. Se queremos tomar um soro somos sujeito a ficar sentados neste banco porque não tem leito”, disse o aposentado Manoel Viana, que está com dengue há 11 dias.

Se a falta de estrutura provoca caos para atender os pacientes, a situação dos profissionais de saúde está pior ainda. “Teve casos de um técnico de enfermagem aqui no hospital para atender 100 pacientes. Sem contar que a Secretaria de Saúde está usando voluntários para fazer atendimentos”, disse o técnico em enfermagem Richarlisson.

Os técnicos em enfermagem denunciaram ainda a falta de medicamentos e de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs). “Uma vez eu me furei e o que eles fizeram foi me mandar fazer exame de sangue, não existe acompanhamento psicológico”, disse o mesmo profissional que é técnico em enfermagem.

Diante das denuncias, o deputado Camilo Capiberibe estará encaminhando relatório ao governador do Amapá Waldez Góes (PDT/AP), ao secretário de Saúde Pedro Paulo Dias de Carvalho e aos Ministérios Públicos Estadual e Federal para as devidas providências. “Vamos encaminhar ao Ministério Público, pois o governo Waldez não se sensibiliza . Só com ação e determinação judicial eles fazem alguma coisa”, desabafou.

Por Eduardo Neves

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