7 de março de 2011

Sem Carnaval, economia do Amapá deixou de movimentar R$ 8,6 milhões

O impasse gerado entre Liga das Escolas de Samba do Amapá (Liesa) e Governo do Estado, que provocou o cancelamento dos desfiles das agremiações carnavalescas, gerou uma reação em cadeia, atingindo vários setores da economia amapaense que viam, no carnaval, uma luz no fim do túnel para a crise instalada no Estado e que teria motivado o não repasse dos valores exigidos pela Liesa. Ao que parece só o que não foi levado em consideração na hora de decidir o quanto poderia ser investido pelo poder público na festa momesca foi a importância do evento para a economia. Só na economia formal algo em torno de R$ 8,6 milhões deixará de ser arrecadado por causa da não realização dos desfiles das escolas de samba.

Um estudo encomendado pelo Sebrae, em 2007, coordenado pelo economista Charles Chelala, revela a importância da festa para o Estado, com a geração de emprego e renda, bem como o aquecimento de alguns setores econômicos, como o de agências de turismo, hotéis e alimentos. Naquele ano, a pesquisa levantou informações sobre as escolas de samba e a movimentação dentro e fora do sambódromo durante os desfiles. “Somente os barracões das escolas de samba movimentaram algo em torno de R$ 3 milhões; o custo com pessoal dava algo em torno de R$ 826 mil; no comércio local, as escolas gastaram R$ 1, 2 milhão; a movimentação no sambódromo foi de R$ 1 milhão; os frequentadores gastaram, em média, R$ 1 milhão e meio; Já os turistas gastaram em torno de R$ 1.570 mil”, disse Chelala.

Somados, os valores citados pelo economista chegam a R$ 8,6 milhões, mas ele explica que alguns custos estão embutidos em outras atividades, por isso, a estimativa de movimentação bruta do carnaval é cerca de R$ 5 milhões. “A movimentação direta do carnaval não é inferior a esse valor, sem falar nas empresas de turismo, passagens, restaurantes de fora da área do sambódromo, distribuidoras de bebidas, dentre outros”, revelou.

Para garantir um bom desfile, as escolas recorrem ao mercado paraense, paulista e fluminense. Os três grandes centros abastecem o Amapá com material para fantasias e alegorias. No entanto, nem tudo vem de fora. Materiais como ferro, compensado e de acabamento, são comprados no mercado local, o que representa 30% dos investimentos de uma agremiação como Maracatu da Favela. “Só em ferro gastamos em média R$ 180 mil. E esse dinheiro fica aqui, no Estado”, disse Egídio Gonçalves, presidente da escola.

Para levar Maracatu à avenida, o orçamento estava fechado em R$ 600 mil, dinheiro que seria usado para compra de material e pagamento de pessoal. Nos barracões, quando há carnaval, verdadeiras fábricas de sonhos são criadas, com gente de várias profissões. Pedreiros, marceneiros, ferreiros, costureiras, carnavalescos, figurinistas, aderecistas, cozinheiros, vigilantes, além de músicos e ajudantes. A folha de pagamento da verde-rosa chegava a R$ 160 mil, uma demonstração do quanto o carnaval é importante para a economia. “É uma oportunidade para quem está desempregado. Quando chega o carnaval, sabemos que vamos ter trabalho”, diz o carpinteiro Josivaldo Pantoja, que teve que procurar outro emprego, depois que foi dispensado da agremiação onde chegou a trabalhar por alguns dias. “É uma pena que não pensaram na gente quando cancelaram o carnaval”, afirmou.

Para 2011, a direção de Maracatu da Favela planejou a montagem de três barracões, para alegoria, fantasia e ensaio. Só de pessoal a previsão era de que fossem contratados mais de 200 trabalhadores diretos. Além da mão de obra local, foram contratadas pessoas de Parintins, no Amazonas, para cuidar de fantasias e alegorias. Desde dezembro em Macapá, eles tiveram que voltar pra casa no início de fevereiro, sem lucrar tudo o que pretendiam e o que foi acordado com as escolas.

O carpinteiro Josivaldo Pantoja é apenas um de muitos trabalhadores que sentiram o efeito dominó gerado pela ausência dos desfiles das escolas de samba. Em alguns hotéis, a esperança de aumento no faturamento acabou e servidores tiveram que ser demitidos, provocando até o fechamento do empreendimento. Quem fez investimento alto para recepcionar os turistas não sabe como vai pagar pelo financiamento bancário. As agências que venderam pacotes fechados, com direito a passagem aérea ou fluvial, estadia e ingressos para assistir às apresentações das escolas, tiveram que devolver o dinheiro aos clientes. “Em 2007, tivemos cerca de 2.500 postos de trabalhos gerados durante a quadra carnavalesca, isso apenas nas escolas de samba e no sambódromo”, informou Chelala.

Para o presidente de Maracatu, o governo não pesou os prós e contras antes de negar o repasse de R$ 1,5 milhão exigido pela Liesa. “Para o Estado foi uma perda muito grande; numa crise como essa, você deixar de arrecadar (...) Se você for fazer uma avaliação, isso é negativo. No Rio, por exemplo, houve a enchente e um incêndio. E a prefeitura bancou uma parte e a rede hoteleira outra parte. Porque eles entenderam que o retorno é muito maior do que se gasta!” disse Gonçalves.

Fonte: A Gazeta

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