2 de abril de 2011

Caso Konishi: Primeiro depoimento do acusado é adiado pela ausência de testemunhas

Indiferente ao que estava acontecendo, com a fisionomia de despreocupado, frio, sarcástico em certos momentos e ao mesmo tempo bastante risonho, ao gesticular conversas com os familiares que assistiam à sessão. Foi desse jeito, que Wellington Luiz Raad da Costa, de 19 anos, principal acusado do triplo assassinato que ficou conhecido como a chacina da família Konishi, acompanhou durante todo o tempo as oitivas das pessoas que depuseram na manhã desta sexta-feira (1º), no pleno da 2ª Vara do Tribunal do Júri. A Justiça colheu o depoimento de oito testemunhas de acusação.

A audiência foi presidida pelo juiz de direito, Luiz Nazareno Hausseler, e teve como representantes do Ministério Público, os promotores de Justiça, Iaci Pelaes e Afonso Pereira. Os advogados de defesa foram Maurício Pereira e Américo Leal. Acadêmicos do curso de direito, parentes e amigos do acusado e das vítimas, além de jornalistas puderam acompanhar a sessão no plenário.

A audiência encerraria com o depoimento do acusado Wellington Raad, mas a ausência de duas testemunhas, o marido de Carol, o professor universitário Pedro Passos, e a empregada dos Konishi, Mary Moraes, não foram localizados. Segundo Rausseler, o professor mudou-se para o Estado do Maranhão, e deverá depor através de carta precatória, enquanto que a secretária da família mudou-se de endereço. O juiz afirmou que ela deverá ser intimada por esses dias.

Uma nova audiência de complementação foi marcada para as 8h30 da próxima sexta-feira (8). Serão ouvidas as demais testemunhas, e o acusado. De acordo com o magistrado, cinco dias após essa data - tempo necessário para a defesa apresentar o memorial - ele deve decidir se Wellington Raad irá a júri popular ou não.

O representante do MP, disse que não tem dúvidas que Wellington será levado a Júri Popular e não escapará da condenação. "Eu tenho certeza. Não há mais dúvida de que foi Wellington Raad que assassinou Caroline, Marcelo e Vitória. Nós temos nos autos, provas periciais que comprovam a autoria dele nesse crime. A defesa está tentando provar a todo custo à inocência dele. No entanto, à alegação que estão usando é completamente descabível. Nós iremos fazer de tudo para ver a celeridade nesse julgamento", prometeu o promotor Iaci Pelaes.

PSIQUIATRA COMPARA RAAD A PERSONAGENS DE FILMES

O primeiro a depor foi o escritor do laudo de insanidade mental de Raad, o psiquiatra forense, Rosano Barata. De acordo com ele, Wellington não apresenta qualquer traço de psicopatia. Porém, o psiquiatra ressaltou que o acusado possui características “coincidentemente semelhantes” aos dos personagens dos filmes Efeito Borboleta e Jogos Mortais – assistidos pelo suspeito no dia em que Carol e os filhos foram assassinados. Em uma das comparativas do psiquiatra, ele disse que igual aos personagens, Raad também teve uma infância sem a presença da figura do pai, e sofre com perdas repentinas de memórias, referindo-se as declarações de Wellington, quando disse as autoridades policiais, não recordar se retornou a casa das vítimas no dia em que elas foram mortas.

EX-DIRETORA DA POLITEC EVITA EMITIR OPINIÃO PESSOAL

O terceiro testemunho foi de Eliete Borges, que na época do crime era a diretora da Polícia Técnico-Científica (Politec). Ela disse que com a conclusão dos exames periciais ficou comprovado que Raad era o autor da chacina. “Embora, no local tenham sido encontrados outros fragmentos papilares (impressões digitais), as provas técnicas apontam os indícios de única e exclusivamente para Wellington”, explicou a ex-diretora. Indagada pelo advogado de defesa, Américo Leal, sobre qual seria sua opinião pessoal sobre o caso, ela ressaltou que estava se atendo apenas em avaliações estritamente técnicas.

NAMORADA E MÃE DO FILHO DA VÍTIMA SE EMOCIONA AO DAR DEPOIMENTO

A segunda a ser ouvida foi a então namorada e mãe do filho de Marcelo Konishi. Ela estava grávida na época em que o rapaz foi assassinado. Bastante emocionada, Daniele Nascimento, pediu para não ficar frente a frente com o suposto assassino. Em meio a lágrimas, ela relatou que por volta das 20h do dia 10 de maio do ano passado chegou a falar com Marcelo ao telefone, e que ele havia dito que Wellington acabara de sair de sua casa. Segundo Daniela, uma hora depois, tentou efetuar outras ligações para o namorado, entretanto, sem sucesso. “O Marcelo nunca deixou de me atender. Eu sabia que tinha acontecido alguma coisa, só não imaginava o que era. Naquele dia, eu ia dormir na casa dele. Tentei ligar até as 2h, como ele não me atendeu, desisti, e só fiquei sabendo que eles haviam morrido na manhã do dia seguinte, quando um amigo da Carol ligou para me avisar”, disse Daniela.

Ainda de acordo com o depoimento da namorada de Marcelo, mesmo sempre disposto a ajudar, inclusive se oferecendo para presentear com um berço o bebê que iria nascer e a pagar parte do aluguel para o casal – que estava à procura de um imóvel –, o acusado não era o melhor amigo da vítima, chegando a ser inconveniente em várias oportunidades. “Eles se conheciam desde 2006, mas o Wellington não era o melhor amigo do Marcelo. Nós sempre comentávamos que ele era muito ‘entrão’. Quando eu e o Marcelo estávamos deitados na cama, ele se jogava entre nós dois e pedia para ficar deitado no meio da gente. Marcelo dizia que não queria nada dele”, relatou a jovem.
Daniela também, contou que Raad chegou a ir à sua residência horas depois dos corpos serem encontrados, oferecendo solidariedade e prometendo localizar os assassinos do amigo. “Ele foi na minha casa, me abraçou, chorou junto comigo e saiu prometendo encontrar o assassino do Marcelo a todo custo”, finalizou Daniela, bastante emocionada.

Durante do depoimento da testemunha, Wellington Raad, que havia saído do plenário a pedido da depoente e ficou em uma área restrita atrás do pleno, balançava a cabeça negativamente, com um leve sorriso no rosto – enquanto Daniela chorava ao lembrar-se dos momentos vividos com Marcelo.

WELLINGTON QUIS PRESENTEAR A NAMORADA COM CELULAR DA MENINA MORTA

A quarta pessoa a depor foi a ex-namorada do acusado, J.B.C., de 16 anos. Ela contou aos magistrados que no dia do fato ligou três vezes para Wellington. No primeiro telefonema, o suspeito disse que estava na casa dos Konishi. Ela afirmou ter ouvido vozes, que deduziu serem de Marcelo e Vitória. Já na segunda ligação, uma hora de tempo depois, o acusado disse que estava resolvendo um problema para o pai. No terceiro contato, feito antes de chegar a casa da namorada, Wellington contou que havia brigado com um rapaz, de pré-nome Marcos. “Ele chegou em casa por volta das 23h, com um corte na palma da mão e com o dedo mindinho inchado. Também senti um cheiro “pitiú” muito forte de sangue. Perguntei o que era, mas ele desconversou e não me respondeu”, disse a adolescente.

Segundo declarações da garota, o suposto assassino dos Konishi, tentou lhe presentear com um aparelho de telefone celular – reconhecido por ela posteriormente na delegacia –, e confirmado após investigações, que pertencia à menina Vitória. Sem saber a origem do objeto, J.B.C, recusou o presente, saindo logo em seguida com o então namorado e uma amiga para lanchar em uma praça, no bairro do Buritizal. Lá, a ex-namorada de Wellington tentou pegar novamente o aparelho, mas foi contida por ele, que usou a seguinte frase: “Não meche nesse celular, que ele ainda não é completamente meu”. A jovem relatou que nesse mesmo dia foi convidada por Wellington a assistir aos filmes Efeito Borboleta e Jogos Mortais. A adolescente disse não lembrar com precisão a data, mas chegou a ver uma mochila cor de rosa – semelhante a da menina Vitória que desapareceu no dia do crime – no banco de trás do carro de Wellington.

A versão de J.B.C foi confirmada pela amiga Lariza Amanajás, e pela mãe dela, Laura Cunha, que ajudou a fazer os curativos na mão de Raad. Lariza acrescentou que o acusado pediu segredo para as duas em relação à briga que teria tido na rua, onde acabou quebrando o vidro do carro de seu rival com um soco. “Ele pediu para que a gente não contasse pra ninguém sobre a briga que ele tinha tido com o tal Marcos. Ele falou que o pai dele não podia saber de jeito nenhum dessa confusão”, disse Lariza. Ela relatou que Raad contou que havia sido vítima de uma tentativa de assalto, e que lutou com o bandido, vindo a se lesionar novamente na mão. O suspeito falou para a menina que prestaria queixa à delegacia, mas segundo Iaci Pelaes, não existe registro de Boletim de Ocorrências (BO) sobre o suposto roubo. Lariza falou sobre a mochila que estava no carro de Wellington. “Eu peguei na mochila, carreguei e estava muito pesada. Perguntei de quem era e ele, muito agressivo, disse pra eu largar aquilo que não era dele. Lembro que fiquei triste e chateada porque ele nunca tinha falado comigo daquele jeito”, relatou Lariza.

A CHACINA SEGUNDO A DENÚNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Wellington Raad foi denunciado pelo Ministério Público (MP), por triplo homicídio, triplamente qualificado, pelos assassinatos da professora universitária e assessora jurídica, Caroline Camargo Rocha Passos, de 34 anos, e dos filhos dela, Marcelo e Vitória Konishi, 17 e 11 anos de idade.

Segundo a denúncia do MP, por volta das 21h do dia 10 de maio de 2010, Wellington, que tinha livre acesso ao local, pela amizade que tinha com as vítimas, adentrou a casa da família e sem motivo justificado, desferiu diversos golpes de arma branca em Carol, Marcelo e Vitória, causando-lhes a morte instantânea. Conforme o laudo expedido pela Polícia Técnico-Científica (Politec), a advogada recebeu 13 golpes de faca, o adolescente 14, e a menina 42.

Ainda de acordo com o denunciante, após a prática dos hediondos crimes, Wellington simulou ter ocorrido um latrocínio, levando o carro de Caroline, com alguns objetos da casa dentro, e abandonando o veículo, a poucos metros do local da chacina, retornando ao lugar para pegar o seu carro, e indo até a casa da namorada, e em companhia desta e de uma amiga, se dirigiu a uma lanchonete, em uma praça, no bairro do Buritizal.

Os corpos das vítimas só foram encontrados por volta das 9h do dia seguinte, quando da chegada da empregada doméstica da família. Segundo o MP, o denunciado não deixou testemunhas oculares dos assassinatos, e como um “bruxo malvado”, não demonstra nenhum arrependimento.

Para o promotor Afonso Pereira, a autoria do crime encontra-se devidamente comprovada pelas testemunhas ouvidas, pela prova coletada pela Politec, e mais ainda, com a confissão do acusado. Segundo Pereira a materialidade é incontestável. “Trata-se de um crime por motivo fútil, acompanhado da crueldade com que foi cometido, isso demonstrado pela reiteração de golpes aplicados nas vítimas. É um crime caracterizado também pelo recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa das vítimas, se agravando com um crime praticado contra criança”, afirmou Afonso.

PERTENCES DA FAMÍLIA ASSASSINADA FORAM JOGADOS NO ESGOTO

Outro testemunho foi o de Alexander Duarte, a pessoa que encontrou os aparelhos eletroeletrônicos levados da casa das vítimas. Ele contou que durante uma caminhada para a casa da avó, localizada na Avenida 1° de maio, no bairro do Trem, encontrou dois telefones celulares, um vídeo-game portátil, uma câmera digital e acessórios para computadores jogados dentro de um bueiro.

Sem saber a quem pertencia, Alexander decidiu dar um dos celulares a sua esposa, que foi detida dias depois por uma equipe de investigadores da Promotoria de Investigação Cível e Criminal (PICC). Com a prisão da companheira, ele se apresentou e contou às autoridades como havia conseguido os objetos. Foi então que ficou sabendo que os eletrônicos eram da família assassinada. A testemunha disse que foi através de policiais que soube que o local onde os pertences foram jogados ficava próximo a residência de um familiar de Wellington.

TESTEMUNHA DERRUBA TESE DA DEFESA

A última testemunha a prestar depoimento foi Maria do Carmo, vizinha de Caroline Konishi. A mulher contou que ao chegar em casa, no dia em que aconteceu o triplo homicídio, viu Marcelo conversando com um rapaz com características semelhantes a do acusado, no portão de entrada. A testemunha disse não ter escutado nenhum barulho durante a madrugada do dia do crime. Ela contou que na manhã seguinte, viu a empregada doméstica da família Konishi tocar várias vezes a campainha, sem ser atendida. Foi então que a funcionária pediu para entrar pelos fundos de Maria do Carmo, para ter acesso ao seu local de trabalho. De acordo com a vizinha, os corpos de Caroline, Marcelo e Vitória foram encontrados pela empregada da família, que acionou a polícia.

O depoimento de Maria do Carmo foi fundamental para derrubar uma das teses da defesa, que alegou contaminação da cena do crime com visita de muitos curiosos. Segundo a vizinha dos Konishi, houve isolamento no local e só entravam as pessoas que eram autorizadas. “Depois que a minha secretária me ligou contando que tinha acontecido um acidente na casa da Carol, eu voltei pra casa e vi apenas um policial na frente, mas a casa dela ainda tava com o portão trancado. Depois, foram chegando outros policiais e o pessoal da Justiça. Alguns deles pediram pra entrar pela minha residência e eu os autorizei, enquanto outros policiais arrobavam a porta da casa de Carol. Eu mesma não vi outras pessoas além da polícia e dos funcionários da Justiça entrar no local”, informou Maria do Carmo.

Fonte: A Gazeta

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