12 de junho de 2011

A vaidade na ponta do bisturi

Em épocas de padrões estéticos severos e hipervalorização da imagem, é possível financiar novos seios em até doze vezes sem juros ou uma lipoescultura em oito. E mais, com avaliações computadorizadas personalizadas grátis. Mas a combinação da constante preocupação dos aficcionados pelo corpo e o novo mercado tentador de promoções para procedimentos de cirurgias plásticas esconde, em alguns casos, o perigo empunhando na ponta do bisturi.

No Brasil, o mercado de cirurgia plástica movimenta mais de R$ 4 bilhões por ano, colocando o país em terceiro lugar entre os que mais realizam cirurgias desse tipo, perdendo apenas para os Estados Unidos e México.

Não há dúvidas de que as cirurgias plásticas e os tratamentos estéticos funcionam. Todos os dias milhares de pacientes comemoram felizes, em frente ao espelho, os resultados obtidos com pequenas ou grandes, leves ou profundas intervenções. A questão é que, apesar do sucesso de público e de crítica, tudo o que envolve mexer com o organismo vivo que é corpo tem, sim, uma possibilidade de complicações que precisa e deve ser conhecida.

De tempos em tempos, episódios envolvendo cirurgias plásticas realizadas por profissionais não habilitados reaquecem a discussão em torno das responsabilidades que envolvem tais procedimentos.

Na última semana, o médico não habilitado para cirurgias plásticas, Agnello da Rocha Neto, foi preso no Pará. O mandado de sua prisão foi expedido pela Justiça amapaense. Rocha Neto, um clínico geral, aspirante a membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), deixou, pelo menos, 27 pacientes mutiladas no Amapá, entre os anos de 2009 e 2010, quando atuou ilegalmente no Estado. O médico foi libertado na última quinta-feira (9).

“Ele apresentou diversos certificados de cursos paralelos de cirurgia plástica. Mas nenhum deles o habilita para realizar o procedimento. Não registrados um profissional com certificados desse tipo”, declarou o presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Dorimar Barbosa, explicando que um profissional médico precisa do curso de pós-graduação e curso de residência médica (estabelecido pelo MEC) para estar legalmente habilitado ao procedimento de cirurgia plástica.

“Esse curso de residência médica tem duração de dois a cinco anos, carga horária de 1,5 mil a 15 mil horas. Então esses cursos de treinamentos oferecidos dentro de hospitais não habilitam legalmente o médico para praticar cirurgia plástica”, reforçou Barbosa.

No Conselho Regional de Medicina do Amapá apenas quatro profissionais estão legalmente habilitados para exercer cirurgias plásticas. São eles: Alexandre Lourinho, André Santana Melo, Zeneide Alves e Claudio Borges Leal de Brito.

TEM PANFLETAGEM? DESCONFIE

A legislação federal proíbe o estardalhaço de propagandas para procedimentos médicos. A distribuição de panfletos promocionais não é permitida. Mesmo assim, a prática é comum em Macapá. Mas o Conselho Regional de Medicina e o Instituto de Defesa do Consumidor (Procon) estão de olho nisso.

“Ainda neste ano está em nosso cronograma fiscalizar essa prática. Vamos verificar a promoção de propagandas enganosas, como aconteceu com o médico Agnello. Se constatarmos a ilegalidade, executamos processo administrativo, conforme previsto no Código de Defesa do Consumidor”, alertou Nilza Amaral, presidente do Procon Amapá.

Amaral informou que quatro processos tramitam no instituto. Todos relacionados a erros médicos em cirurgias plásticas. Os processos envolvem Agnello da Rocha Neto (dois), Sérgio Augusto dos Anjos Brito e Arthur Amaral Torrinha.

NINGUÉM VIU, NINGUÉM VÊ

Dorimar Barbosa alertou para o grande número de médicos que desembarcam nos fins de semana no Amapá para promover cirurgias plásticas às escondidas. “Eles só vêm nos fins de semana. Já sabem que estamos de olho na questão da habilitação legal desses profissionais, então eles chegam, fazem a lipo (lipoaspiração), por exemplo, que é o mais comum, e retornam para seus estados”, enfatizou.

O presidente do CRM falou da dificuldade que o conselho tem em fiscalizar esses profissionais. “Somos uma autarquia federal. Não funcionamos nos fins de semana. Então não tem como fazer fiscalização a essas pessoas. Quando retornamos ao trabalho na segunda (feira), eles já foram embora”, lamentou. Para que o conselho de medicina impute qualquer procedimento de penalidade a um profissional não habilitado exercendo função não autorizada, é necessário o flagrante da ação, neste caso, o procedimento cirúrgico.

Barbosa explicou que um profissional médico interessado em desempenhar atividade cirúrgica em outro estado que não seja o seu de origem (onde possui o registro do CRM), precisa comunicar a ausência ao conselho de medicina onde está registrado. Este conselho, por sua vez, entra em contato com o CRM do estado para o qual o médico se direciona, para comunicar a sua presença em determinada data.
“Mas, normalmente, não há essa comunicação, exatamente porque ele não tem habilitação em seu conselho de origem”, frisou Dorimar Barbosa.

CUIDADOS E ORIENTAÇÕES PARA QUEM QUER SE SUBMETER À CIRURGIA PLÁSTICA

Procure um médico especialista, filiado à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. No site da entidade é possível verificar essa informação. (www.cirurgiaplastica.org.br)

Evite realizar o procedimento se estiver vivenciando uma situação desafiadora do ponto de vista emocional: a perda de uma pessoa querida, a ruptura de relações valorosas ou uma demissão involuntária.

Esteja atento à real motivação da busca pela beleza. Uma cirurgia plástica não trará, necessariamente, um ganho secundário, como um casamento mais feliz ou uma promoção no trabalho.

A operação deve ser precedida de uma criteriosa avaliação clínica e da realização de exames complementares compatíveis com sua faixa etária e o tipo de procedimento. A avaliação pré-cirúrgica é etapa indispensável para sua segurança.

Observe todas as recomendações médicas para o pós-cirúrgico. Se você acredita que não terá tempo para realizar o repouso necessário, não faça a cirurgia.

Faça todos os questionamentos necessários antes da cirurgia. Conheça todos os riscos inerentes ao procedimento que deseja realizar, bem como o tempo previsto para duração dos resultados. Expectativas inalcançáveis costumam gerar frustrações.

A cirurgia plástica estética ou reconstrutora pode causar impacto positivo no bem-estar integral, por fortalecer a auto-estima e a autoconfiança. Para que traga benefícios, deve ser encarada com muita responsabilidade.

VAGINAS RECONSTRUÍDAS POR ATÉ R$ 7 MIL

Cirurgia plástica virou mesmo um mercado. Depois de financiar novos arranjos para o seu corpo, agora é possível pagar também por uma vagina nova. Acredite se quiser. A cirurgia surgiu para corrigir problemas orgânicos, mas virou estética. Segundo reportagem da revista “Época”, esse tipo de cirurgia cresceu 30% nos últimos dois anos nos Estados Unidos e no Brasil já se nota tal fenômeno. Um cirurgião brasileiro que diz ter realizado mais de 2 mil operações vaginais conta que antigamente a procura era majoritariamente causada por problemas orgânicos. Hoje, 70% das pacientes que se submetem à cirurgia têm apenas queixas estéticas. O preço de lábios vaginais “perfeitos” (se é que é possível dizer quais são os ideais) varia de R$ 5 mil a R$ 7 mil.

Fonte: A Gazeta

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