5 de junho de 2011

Pornografia made in Amapá à venda por R$ 3




Fonte: A Gazeta


Nas telas dos cinemas, em cartaz, os filmes “Se beber, não case 2” e “Piratas do Caribe 4”. Dois espetáculos cinematográficos de comédia e aventura que têm rendido pomposos lucros aos empresários de cines de Macapá e Santana. Mas, não tanto quanto o sucesso de público “Pornô local de Macapá”, vendido a preço de banana por “pirateiros” anônimos.


Com um enredo apelativamente voltado à vulgaridade, o filmete amador traz as peripércias juvenis, com sórdidas pitadas de malícia encenadas pelos marmanjos de plantão, e a mistura de ingenuidade e traição.


O “Pornô local de Macapá e Santana” tem produção exclusivamente amapaense e é comercializado em pontos estratégicos desses dois municípios. Interpretado por bandidos e mocinhas, e vice-versa, o filme traz uma trilha sonora frívola e se desenrola em ambientes sórdidos e nefastos.


São 43 capítulos, cada um com uma característica singular: exibicionismo, abuso sexual infantil e brincadeiras eróticas ou registros de um momento especial que dizia respeito a apenas duas pessoas, mas, vazou para a web e alcançou as telas de bandoleiros que com alguns cliques tratou de espalhar aquela intimidade antes testemunhada pelas quatro paredes de um cômodo qualquer.


Ainda não conhecido pela Delegacia de Repressão e Crimes contra Crianças e Adolescentes (Dercca), o filme configura crime de abuso sexual infantil e virtual. Está sendo comercializado sem qualquer fiscalização e reproduzido às claras por jovens estudantes motivados pela curiosidade.


Segundo informações não oficiais, o filme “Pornô local” é vendido nas duas cidades mais populosas do Amapá por R$ 5 – e se for comprado em mais de uma unidade o preço baixa para R$ 3.


Autoridades desconhecem existência do vídeoamador


A delegada Nazaré Carvalho, titular da Dercca, tomou conhecimento do filme a partir da abordagem da reportagem do Jornal a Gazeta. “Não sabia da existência desse vídeo. Agora vamos investigar”, prometeu.


Sobre o fato de um suposto assassino cruel (Igor Bastos) aparecer nas imagens em atos sexuais com uma provável menor, Carvalho adiantou: “Se for mesmo esse rapaz (Igor) no vídeo, ele responderá por mais esse crime. Mas esse vídeo terá de ser periciado”, declarou.


A delegada acrescentou que se empenhará na descoberta dos autores do crime. Contudo, adiantou tratar-se de uma investigação demorada e complexa. “O vídeo terá de ir para a Politec. Eles vão periciar, rastrear computadores para que cheguemos aos acusados. Não é uma tarefa fácil”, disse.


Segundo informou o defensor da Infância e da Juventude, Gilson Soares, crimes desse tipo ainda chegam com pouca frequência ao conhecimento da polícia. Isso porque, conforme comentou, os pais e as próprias vítimas sentem-se constrangidos em levar a público assuntos desse tipo.


Soares informou que em 2010, entre 15 e 20 casos, apenas, nesse sentido foram registrados na Dercca. Desses, 3 ou 4 relacionados a atos sexuais de menores praticados no interior de lan-houses. Neste ano, três casos estão em processo de investigação. Dois relacionados a crimes sexuais envolvendo menores de idade e um correspondente a “bullying”.


Para o promotor da Vara da Infância e da Juventude, Aldeniz Diniz, o assunto lhe causa estranheza. Diniz não só disse não saber da existência do filme, como ainda assegurou jamais ter recebido qualquer denúncia nesse sentido. “Isso está acontecendo aqui em Macapá? Nunca recebi nada a respeito”, afirmou o promotor.


Entre o amor e a desconfiança


Joana (nome fictício), hoje com 21 anos, viveu durante quase um ano dividida entre o amor e a desconfiança. Acostumada a filmar seus momentos íntimos com o namorado, ela foi surpreendida no final de 2008 (em novembro) ao saber que um desses vídeos caseiros já havia caído na net. Armazenado no telefone celular do seu parceiro, o filme passou a circular no mundo virtual depois que o aparelho foi supostamente perdido pelo namorado, à época com 23 anos.


Joana conviveu com o martírio de não ter absoluta certeza da inocência do namorado, com quem se relacionou por mais de 3 anos. Ela faz parte da série de vídeos sexuais que compõem o enredo do “Pornô local”.


A jovem contou que o casal era acostumado a protagonizar filmes de sexo, que eram deletados em seguida. Contudo, o último vídeo feito – exatamente o que circula na net e consta no filme – permaneceu armazenado no aparelho celular. “Não me preocupava com a existência do vídeo, porque estava numa pasta oculta. Só dava pra ver, quando conectávamos ao notebook”, lembrou.


Numa noite em que o casal foi para uma boate, em meio a uma briga conjugal, o aparelho foi supostamente perdido. Um mês depois, Joana foi avisada por uma amiga de que aquele vídeo erótico já havia vazado para a internet.


Desconfiada do namorado, a garota resolveu denunciá-lo à polícia. O processo tramitou, mas quando chegou ao fórum judicial, Joana resolveu desistir e preferiu não levar adiante a acusação. Depois de se ausentar do Amapá por cerca de um mês, Joana voltou para passar o Natal com a família e num reencontro com o namorado decidiu permanecer no Estado. Eles reataram o namoro, mas a dúvida ainda pairou entre o casal.


A menina não pediu a retirada do vídeo que ainda circula na rede. “Não queria mais mexer com essa história. Isso estava me atrasando, então deixei pra lá”, justificou. Como lição, a jovem aprendeu a não confiar cegamente nas pessoas com as quais se relaciona. Ela afirmou que jamais permitirá ser filmada novamente em seus momentos íntimos. “Podemos até casar. Mas nunca conhecemos com quem estamos”, enfatizou.


Suposto estupro do “Maníaco de Mazagão” também está na pirataria


Interpretado por anônimos e alguns poucos personagens conhecidos pela sociedade amapaense – DJs, apresentadores de TV e assessor de comunicação –, o vídeo também conta com a encenação sórdida de Igo Araújo Bastos, que ficou conhecido como o “Maníaco de Mazagão”, após o brutal assassinato da menina Glaucimara Silva de Souza, de apenas 6 anos de idade, crime ocorrido no início deste ano.


No filme, ele aparece praticando ato sexual com uma garota – cuja idade seria 12 anos, segundo a promotoria que cuida do caso Glaucimara. No ambiente da cena, colegas de Igo assistem e filmam o sexo explícito, com aspectos de abuso infantil. Um deles manda o restante do grupo fazer fila para manter relações sexuais com a garota. O advogado de Igo afirma que a relação sexual foi consentida pela menina do vídeo. Segundo o Ministério Público, ela tem distúrbios mentais.

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