8 de dezembro de 2010

Tragédia ou espetáculo? Especialista vê exagero na cobertura da violência no Rio

Por Izabela Vasconcelos

Os confrontos entre traficantes e policiais no Rio de Janeiro, durante a última semana, ocuparam boa parte das páginas dos jornais, revistas e espaço nas emissoras de televisão e rádio. No entanto, para o antropólogo Edilson Almeida da Silva, autor do livro Notícias da violência urbana: um estudo antropológico (Editora UFF), apesar do conflito não poder ser negligenciado, a cobertura jornalística cometeu excessos e tratou o assunto de uma forma simplista.

“Apesar de ser um grande conflito, há certa espetacularização do problema. É tratado de uma maneira maniqueísta, como mocinhos e bandidos. Apenas dois lados se contrapondo é uma forma simplista”, define o pesquisador do Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos (INCT-InEAC), da Universidade Federal Fluminense.

Para ele, a cobertura da violência no Rio de Janeiro cresceu ao longo dos anos porque passou a atingir classes que antes não se sentiam fragilizadas. “A violência se difundiu para segmentos da sociedade que antes se consideravam mais afastados da violência, e agora se sentem sensíveis. Isso mobiliza a cobertura”, avalia.

DIVULGAR OS SUSPEITOS

Segundo ele, até pouco tempo a mídia adotou uma postura satisfatória ao evitar noticiar nomes de bandidos e facções, mas com o recente conflito, voltou a identificar os criminosos. “Para poder apoiar a ação das UPPs, eles acabam fazendo o que eles tinham evitado, usar os nomes dos bandidos, o que acaba dando um espaço que os criminosos não merecem”.

Silva também afirma que a mídia filtrou entrevistas e trouxe muitos relatos, mas alguns deles não refletiam a fiel realidade. “Os jornalistas fazem filtragens das pessoas da comunidade, dos moradores, mostram muitos felizes, mas nem sempre reflete o que todos estão sentindo”.

DESTAQUE NO BRASIL E NOS EUA

Durante o conflito, a Globo chegou a transmitir mais de cinco horas ininterruptas do confronto. A Record fez o mesmo por mais de duas horas. A semana do conflito também ilustrou, por dias, as manchetes de jornais, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo. A equipe do jornal Extra fez transmissões por twitcam e criou uma página no Twitter exclusiva para a cobertura.

O jornal The New York Times chegou a afirmar que a mídia nacional conseguiu “cativar” os brasileiros para a cobertura do confronto como em nenhum outro evento desde a Copa do Mundo da África do Sul.

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