Não há motivo para qualquer surpresa – embora, sim, para repúdio – na informação divulgada pela seção “Painel” da Folha de S. Paulo segundo a qual o ex-governador do Amapá Waldez Góes (PDT-AP), preso pela Polícia Federal em setembro passado por indícios de envolvimento num esquema que desviou 300 milhões de reais dos cofres públicos, e derrotado em sua tentativa de se eleger senador, se ajeitou com um empreguinho como assessor, em Macapá, do deputado Bala Rocha (PDT-AP).
Isso de colocar político derrotado ou suplente sem salário em função de “confiança” é prática corriqueira no Congresso, e o mau exemplo vem de cima, e do próprio Amapá.
Pois o presidente do Congresso Nacional, senador José Sarney (PMDB-AP), como já comentei aqui anteriormente, deu um jeito de arranjar uma boquinha como assessor de gabinete, em Brasília, para seu primeiro suplente há 12 anos, o também ex-governador Jorge Nova da Costa – um maranhense, como ele, que o próprio ex-presidente nomeou para o cargo, em 1985, quando ocupava o Palácio do Planalto e o Amapá ainda era um território federal, e não um Estado.
Nesse jogo de compadres, quando Sarney deixou a Presidência, em 1990, foi Nova da Costa quem o “convidou” para candidatar-se ao Senado pelo PMDB do Amapá — na verdade, o ex-presidente, com baixíssimos índices de popularidade, temia perder a eleição se concorresse por seu Estado, o Maranhão. No então esquecido Amapá, o peso e o prestígio da Presidência recém-exercida se fizeram sentir, e Sarney se elegeu. Seria reeleito em 1998 e em 2006, nessas vezes tendo Nova como suplente.
Uma vez que Sarney nunca se licencia do mandato, o suplente, na flor de seus 84 anos de idade, não tem tido a oportunidade de exercitar-se como senador sem voto. Daí a solução: virou assessor do titular. E o Senado, que não tem nada a ver com a história entre os dois, é quem paga a conta.
Confira o currículo do deputado Bala da Costa, que – vai ver que inspirado em Sarney — tão generosamente abriga com dinheiro público o ex-governador indiciado pela PF como seu assessor.
Fonte: Ricardo Setti/Revista Veja
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