17 de agosto de 2011

Após ações da PF, políticos do Amapá temem 'estigma de corrupção'

Em menos de um ano o estado do Amapá foi alvo de duas operações da Polícia Federal que investigaram supostos esquemas de corrupção envolvendo políticos do estado. Segundo lideranças políticas locais, as operações Mãos Limpas e Voucher, deflagradas em setembro do ano passado e na semana passada respectivamente, atrelam à imagem do Amapá um "estigma de corrupção".

Na semana passada, 36 pessoas foram presas pela Polícia Federal durante a Operação Voucher, que investigou um suposto esquema de desvio de recursos públicos do Ministério do Turismo, por meio de convênios da pasta com entidades e empresas supostamente de fachada do Amapá. Entre os presos estavam integrantes da cúpula da pasta, como o secretário-executivo, Frederico da Silva Costa.

Depoimentos de testemunhas apontam que a deputada federal Fátima Pelaes (PMDB-AP), responsável pela emenda parlamentar que liberou recursos para as entidades, é citada por supostamente ter recebido verbas do convênio. Em nota, a deputada negou irregularidades.

Para o ex-senador pelo PSDB, Papaléo Paes, o estado por ser “punido” principalmente no que diz respeito à atração de investidores. “É lamentável que o estado fique com esse estigma de corrupção. São situações que abalam a autoestima do cidadão. Só podemos lamentar essa situação vexatória em relação a um estado que precisa de credibilidade para atrair investimentos e se desenvolver”, afirmou Paes.

A Operação Mãos Limpas, deflagrada no ano passado, investigou suspeitas de um suposto esquema de desvio envolvendo membros da cúpula do governo local. Dezoito pessoas foram presas no Amapá em setembro de 2010, pouco antes das eleições. Entre os presos, estava o então governador do estado, Pedro Paulo Dias (PP), o ex-governador Waldez Góes e o então presidente do Tribunal de Contas do Amapá, José Júlio de Miranda Coelho. Durante a operação, foram apreendidos carros de luxo e R$ 1 milhão.

O inquérito revelou a formação de suposta quadrilha estruturada com base em gestão formada por parentes do atual governador e de Waldez Goés.

“É profundamente lamentável. Imagine a vergonha para uma sociedade ver seu governador preso, retirado do convívio da sua comunidade. Eu sempre dei uma contribuição grande para combater esse comportamento antiético que não é exclusividade do Amapá”, disse o ex-governador do estado, João Capiberibe (PSB), pai do atual governador Camilo Capiberibe (PSB).

A Operação Voucher chamou atenção não só pelas denúncias de irregularidades, mas pelas críticas públicas de integrantes do governo federal quanto ao uso de algemas e ao vazamento de fotos dos suspeitos ao dar entrada no presídio. Para o senador do PSOL Randolfe Rodrigues (AP), esse tipo de debate é uma tentativa de mudar o foco do problema principal que é a fraude investigada.

“Geralmente se tenta desviar o foco das operações da PF. Não é um privilégio do Amapá. Mas acho inadequado mudar o foco do debate. É lamentável que as fotos tenham vazado, o uso de algemas pode ter sido exagerado, mas o inaceitável de fato é a corrupção. O Estado de direito é aquele em que ninguém está acima da lei”, afirmou o senador Randolfe Rodrigues.

Sobre o vazamento das fotos dos presos no Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen), o governo do estado determinou a abertura de investigações nas esferas criminal e administrativa para apurar a responsabilidade pela divulgação do material sigiloso.

Risco a investimentos

No despacho que determinou as prisões da Operação Voucher, o juiz Anselmo Gonçalves da Silva expressou preocupação com o destino de investimentos para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016, diante de um cenário de fraudes envolvendo o Ministério do Turismo.

Para o magistrado, o risco de desvios de recursos importantes para a preparação do mundial foi uma das razões para que as prisões fossem decretadas as prisões. "A proximidade da realização de importantes eventos esportivos no Brasil sinaliza o início de investimentos maciços do governo federal em infraestrutura e capacitação profissional, notadamente no segmento do turismo, cuja demanda será fortemente estimulada pela atração de estrangeiros ao país. (...) Sabe-se que parte desses recursos públicos investidos passará pelo Ministério do Turismo, exatamente onde a organização finca as suas raízes, razão a mais para extirpá-la", afirmou o juiz se referindo à quadrilha suspeitas de desvios no ministério.

Fonte: Portal G1

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