16 de fevereiro de 2012

Amapá tem um assassinato a cada 27 horas

Fonte: A Gazeta

Na década de 1970, quando Pelé liderou a conquista do tricampeonato do Brasil no Mundial do México, contavam-se nos dedos os televisores a cores existentes em Macapá. Os gols do Rei do futebol não eram transmitidos ao vivo, mas os moradores da cidade ainda tinham o privilégio de dormir com as portas e janelas entreabertas. Sambas de enredo decantavam a incipiente metrópole como a "cidade-jóia da Amazônia". Lembranças, apenas boas lembranças. Em 2012, apesar da TV digital, iPhones, iPeds, iPods e tablets, viver na capital amapaense é uma aventura extremamente perigosa.

As estatísticas são assustadoras: nos primeiros 45 dias de 2012 ocorreram 40 homicídios no Amapá, a maioria em Macapá, ou seja, uma pessoa foi assassinada a cada 27 horas: 22 morreram a golpes de faca ou terçado e 17 foram fulminadas por armas de fogo. Os números representam um aumento de 250% em relação ao mesmo período de 2011, quando foram registrados 16 homicídios - 10 por armas brancas e seis por armas de fogo.

Proporcionalmente, os 40 assassinatos ocorridos nos primeiros 45 dias de 2012 equivalem a 19,05% dos 210 homicídios registrados no decorrer de 2011. Os dados alarmantes da violência ascendente em Macapá haviam sido captados no ano final do ano passado pela Delegacia Especializada em Atos Infracionais (Deiai). Segundo os registros consolidados em dezembro, a cada 36 horas uma pessoa foi roubada ou morta por menores na capital amapaense, em 2011.

As cores da violência também foram estampadas em janeiro deste ano pela ONG mexicana Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal, que apontou Macapá como a 36ª cidade mais violenta do mundo, com 45,08 mortes violentas para cada 100 mil habitantes. A inserção da capital no mapa da violência mundial colocou o Amapá na quinta colocação nacional de estados mais violentos do país, com 38,7 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes, segundo a pesquisa do Instituto Sangari, com informações do Ministério da Justiça relativas ao período de 2000 a 2010.

Macapá é escola da criminalidade

O rastro de sangue no Amapá tem a perfeita tradução no brutal assassinato do advogado Eliel Rabelo. Morto com dois tiros, ele teve o corpo carbonizado dentro do seu carro na madrugada desta terça-feira (14). A violência em Macapá não é um fato isolado e mostra que, se as autoridades ainda não perderem o controle, pelo menos não dispõem de um plano para combater o problema.

As estatísticas da Delegacia Especializada em Atos Infracionais (Deiai) revelam que Macapá transformou-se em uma escola da criminalidade. Em 2010 haviam sido registrados 293 procedimentos, que saltaram para 507 entre janeiro e novembro de 2011, um crescimento de 73% entre os crimes praticados ou com envolvimento de adolescentes.

Se considerados apenas os crimes de maior gravidade, em 334 dias de 211 foram registrados 238 atos infracionais referentes a assaltos e assassinatos somente na capital. Ou seja, em Macapá, a cada 36 horas, em média, uma pessoa é roubada ou assassinada por menores de idade. A faixa etária desses jovens está entre 13 a 17 anos, com maior incidência entre 15 e 17.

Professor Marcos Roberto vê situação normal

O simples fato de Macapá figurar entre as 50 cidades mais violentas do mundo - e o Amapá, o 6º estado mais violento do país - já seria motivo para comemorar o aniversário de 254 anos da cidade, festejado em 4 de fevereiro, com uma taça de sangue. Mas a escalada de assassínios registrada no início de 2012 sequer comoveu o secretário de segurança, conhecido como “professor” Marcos Roberto, que vê a situação dentro da normalidade e desdenhou do reforço de R$ 8 milhões para sua pasta, alocados pelos deputados no orçamento de 2012.

Se o professor Marcos Roberto considera desnecessário aumentar os investimentos em segurança pública, está na hora de o governo estadual perceber o óbvio: as novas viaturas que entraram em circulação no ano passado não foram suficientes para frear o avanço da violência. Os 40 homicídios transcorreram em 45 dias em que não havia greve de policiais no Amapá, a exemplo do que aconteceu em Salvador (BA).

O posicionamento do professor Marcos Roberto, expressado nas redes sociais, arrancou críticas dos deputados estaduais, principalmente do presidente da Assembleia, Moisés Souza (PSC). Referindo-se ao professor, Souza disse que os secretários precisam parar de tuitar e sair dos gabinetes para conhecer a realidade das ruas.

Mesmo que Marcos Roberto avalie como satisfatória a segurança pública do Amapá, estão inconclusos todos os inquéritos de homicídios com autoria desconhecida ocorridos em janeiro deste ano, segundo a Delegacia Especializada em Crimes contra a Pessoa (Decipe). O motivo é a demora dos laudos da Politec, que levam mais de 30 dias, em média.

A falta de investimento também é visível nas investigações e diligências da Polícia Civil, prejudicadas por falta de combustível. Há quase um mês, os agentes se vêem obrigados a fazer coleta para colocar as viaturas em movimento e desempenhar suas funções.

A interrupção das investigações policiais, segundo reclamações feitas aos parlamentares, foi uma das razões que levou os deputados a elevar a verba da segurança pública em R$ 8 milhões. Mas, o professor Marcos Roberto, não apenas desdenhou dos recursos, como considerou que a sociedade pode respirar tranquila, em pleno carnaval.

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