O Ministério Público Federal no Amapá encerrou nesta sexta-feira (12) o inquérito sobre o esquema de corrupção no Ministério do Turismo. Segundo o procurador da República, Celso Leal, os envolvidos serão denunciados nos próximos dias e a suspeita sobre a participação da deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP) será enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF). "A investigação está concluída e os autos agora serão remetidos ao STF para analisar o caso da deputada", afirmou.
Conforme o Jornal O Estado de São Paulo revelou com exclusividade, o nome da deputada aparece em pelo menos quatro depoimentos como destinatária do dinheiro. Ela tem foro privilegiado no STF e somente a Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília, tem prerrogativa para investigá-la na área criminal.Com o encerramento do inquérito, o MPF consegue impedir que todo o inquérito seja enviado ao STF, o que prejudicaria a denúncia sobre os demais envolvidos. O Supremo e a PGR vão receber todos os autos, mas apenas para analisar o envolvimento de Fátima Pelaes.
De acordo com os relatos presentes no inquérito da polícia, obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, Fátima Pelaes teria montado um conluio no Amapá para levar recursos públicos para ela própria e para a campanha à sua reeleição, no ano passado. A deputada é autora das emendas parlamentares que favoreceram o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), entidade pivô do esquema investigado pela Polícia Federal. A operação Voucher, desencadeada pela polícia na última terça-feira, prendeu 35 pessoas, incluindo os quatro investigados que prestaram os depoimentos que comprometem a deputada.
Um dos depoimentos é de Merian Guedes de Oliveira, que aparece como secretária da Conectur, cooperativa fantasma do Amapá que, segundo a investigação, foi subcontratada pelo Ibrasi por R$ 250 mil e teve convênio com o próprio Ministério do Turismo em 2009 no valor de R$ 2,5 milhões. Merian disse que foi avisada pelo patrão e dono da Conectur, Wladimir Furtado, que a deputada Fátima Pelaes ficaria com os recursos do Turismo destinado ao Amapá. Furtado foi preso na operação da PF de terça-feira.
De acordo com o relato à polícia, Merian "ficou sabendo de Wladimir que, na divisão do dinheiro, a deputada Fátima Pelaes ficou com maior parte do valor destinado à empresa, inclusive tendo Wladimir comentado que o dinheiro destinado à empresa não seria suficiente para pagar os encargos financeiros. Que a tratativa refere-se ao primeiro repasse no valor de R$ 2.5000.000,00". Esse repasse citado diz respeito ao dinheiro transferido pelo Ministério do Turismo para a Conectur em 2009.
No depoimento, Merian disse ainda que "ouviu de Wladimir estar preocupado de ter sido incluído pela deputada Fátima Pelaes neste esquema de desvio de dinheiro público, o que poderia culminar com a prisão de Wladimir". Merian ainda afirmou à PF que "os demais repasses de dinheiro/recurso feitos à empresa Conectur na verdade foram desviados para a deputada Fátima Pelaes, não tendo ficado qualquer valor com a empresa ou com Wladimir". Em seu depoimento, Wladimir Furtado se identificou como "turismólogo" e afirmou "nunca entregou nenhum dinheiro para Fátima Pelaes".
Um sobrinho dele, David Lorrann Silva Teixeira, no entanto, confirmou a mesma versão sobre o suposto envolvimento da deputada do PMDB no esquema de corrupção no Turismo. Teixeira aparece na investigação como tesoureiro da Conectur. Segundo ele, "seu tio falava que ganharia 10% do total e a deputada federal Fátima Pelaes ficaria com aproximadamente R$ 500.000,00 do total". A deputada, segundo ele, tinha "pressa" para liberar os recursos.
Outro depoimento que menciona o nome da deputada foi o dado por Errolflynn de Souza Paixão, que já foi sócio da Conectur. Segundo ele, "Wladimir chegou a dizer que o dinheiro seria devolvido à deputada". "A deputada tinha pedido para ele (Wladimir) apresentar uma entidade que pudesse receber o recurso da emenda para desenvolver um trabalho de qualificação do Turismo. E ele (Wladimir) disse: 'Eu sei que a entidade pega o dinheiro e retorna para ela", afirmou. Já outra depoente, Hellen Luana Barbosa da Silva, afirmou aos policiais que, na sua opinião, "a deputada Fátima Pelaes indicou o Ibrasi para receber parte do dinheiro para financiar sua campanha à reeleição".
12 de agosto de 2011
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1 comentários:
A ação da Polícia Federal foi a mais absurda possível! As pessoas foram pré-julgadas e tratadas como bandidas antes mesmo de qualquer julgamento legal. Conheço uma pessoa servidora do Ministério do Turismo que foi presa ilegalmente, só por ser Técnica. Isso não significa que seja bandida ou corrupta. Apenas fez um consurso para Técnica e trabalhava como tal, dando pareceres que seguiram todos os trâmites legais. Se fosse alguém ligado a qualquer esquema, estaria andando de carro de luxo e morando em área nobre em Brasília. No entanto, anda de ônibus e mora em cidade-satélite, de aluguel! A ação foi pior que na ditadura. Nâo julguem as pessoas com antecedência. Quando um ato desse não acontece com a gente ou quando não acontece com pessoas que gostamos ou temos amizade, não damos a mínima. Mas quando acontece com a gente, sempre perguntamos: quem vai se preocupar comigo? Não só o vazamento de fotos foi inaceitável, mas toda a operação em si. Tudo isso não passou de uma farsa para encobrir os verdadeiros culpados. E esses coitados foram os escolhidos pra isso.
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