Fonte: A Gazeta
Como num hospital particular, quem recorre ao atendimento da rede pública de saúde do Estado do Amapá precisa ter dinheiro no bolso. Parece absobrigatoriamente deveria ser fornecido pelo Governo Estadual. Os gastos são com medicamentos, itens de acomodação, alimentação e até materiais de órtese e prótese.
A situação chegou ao limite da tolerância. Tanto que despertou a atenção de membros e da diretoria do Sindicato dos Servidores de Saúde do Amapá (Sindesaúde). Desde ontem (3), eles estão acampados em frente ao Hospital de Emergências de Macapá, recolhendo denúncias de pacientes e fazendo um apanhado dos custos que a população está tendo, pagando a conta do Governo.
“Vamos reunir denúncias, receitas e notas fiscais das compras, para juntar a uma ação. Vamos acionar o Ministério Público Estadual para denunciar essa situação. Também vamos cobrar da Secretaria de Saúde que faça o ressarcimento desses valores aos pacientes”, pontuou Dorinaldo Malafaia, presidente da entidade sindical.
Denominado “Sindesaúde na base”, o acampamento em frente aos hospitais também tem a finalidade de pressionar os gestores da Saúde a normalizarem os atendimentos nas unidades, oferecendo aos pacientes o quê lhes é garantido, segundo institui o Sistema Único de Saúde (SUS).
O sindicato também está promovendo fiscalizações no interior dos hospitais com a intenção de averiguar as condições de trabalho de técnicos e enfermeiros. “Estamos fazendo um raio X da saúde”, reforçou Malafaia, acrescentando que a ação do Sindesaúde percorrerá todos os hospitais de Macapá. “Cada semana acamparemos em frente a uma unidade”, frisou. Ele adiantou também que o Pronto Atendimento Infantil (PAI) será o próximo a receber a caravana fiscal.
Ainda hoje (4), todas as enfermarias e corredores do Hospital de Emergências deverão receber a visita da equipe do sindicato, que quer saber quanto cada paciente está gastando com itens que deveriam ser pagos pelo Governo.
Alimentação suspensa
Ontem, enquanto a reportagem visitava o acampamento do Sindesaúde, uma denúncia de que os cozinheiros do Hospital de Emergências haviam cruzado os braços chegou ao conhecimento da nossa equipe. A informação foi confirmada pelo enfermeiro e presidente do sindicato, Dorinaldo Malafaia.
Há cinco meses sem receber salários, os trabalhadores que prestam serviço ao hospital através da empresa denominada Mecon, decidiram paralisar suas atividades como forma de protesto ao atraso. “Só vamos servir polpa (de frutas)”, afirmou, por telefone, uma cozinheira que pediu para não ser identificada.
Os preços da ilegalidade
Mauro Marques, presidente de conselho comunitário de segurança, desembolsou R$ 74,00, adquirindo medicamentos para o seu pai, de 63 anos, que sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Sebastião Ferreira da Silva, 27 anos, cansou de esperar pelo cumprimento do Estado. Há 32 dias internado no Hospital de Clínicas Alberto Lima, aguardando por materiais ortopédicos para a realização de sua cirurgia, ele decidiu comprar a placa para suporte tibial, que garantirá o procedimento médico. O material custa R$ 1,2 mil.
Embora haja disparidade nas quantias, os preços que ambos pagaram ou estão propensos a pagar custam exatamente o mesmo valor: o de uma vida.
Sebastião da Silva falou que, junto à família, já conseguiu reunir o dinheiro suficiente para a compra do material cirúrgico. Ele aguarda há uma semana pelo que ele chama de liberação da diretoria do hospital. “Foi formulada uma solicitação de liberação para compra do material. O documento foi enviado ao diretor do hospital, e estamos aguardando resposta”, detalhou o paciente.
Lineu Facundes, diretor do Hospital de Clínicas Alberto Lima, negou ter conhecimento de qualquer solicitação de liberação de material cirúrgico. Falou, no entanto, que no caso de um paciente querer, por conta própria, comprar um objeto que não esteja sendo ofertado pela unidade de saúde para proceder com uma cirurgia, ele não poderá opor-se, impedindo o procedimento médico.
A prática, tanto no caso da compra de medicamento, como da aquisição de material cirúrgico, é ilegal, já que o Estado tem o dever de fornecer os atendimentos.
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