Sexta-feira, 10 de junho, foi a última vez que a jovem Joana (nome fictício), de aproximadamente 20 anos, pipou e sentiu o “barato” provocado pela pedra maldita que mistura pasta-base de cocaína refinada, gasolina (ou querosene) e cal virgem. De nome curto e simples, o oxi tem “feito a cabeça” de ex-craqueiros amapaenses, e, nesta sexta-feira (17), matou Joana.
Levou exatamente uma semana até que o coração da jovem, que insistia em bater, se rendesse aos efeitos malignos provocados pela pedra. Joana deu entrada no Hospital de Emergências de Macapá no dia 10 de junho. A moça, que se apresentava cianótica (pele roxa), já estava com morte cerebral diagnosticada. O esforço da equipe médica da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital não foi suficiente para conter a ação rápida da droga no corpo de Joana, que ainda permaneceu durante uma semana com morte cerebral, mas com os batimentos do coração sendo mantidos por aparelhos. Ela morreu a uma hora da manhã.
Informações repassadas pela família da jovem aos médicos que cuidaram de Joana dão conta de que a moça era usuária de crack, e há pouco tempo havia passado a consumir o oxi, a mais devastadora pedra da morte.
Apreensões cada vez maiores
Cinco apreensões de oxi já foram registradas no Estado, somente neste ano. Todos foram feitas pela Polícia Civil. No mesmo dia em que Joana perdeu a vida para a droga, a 2ª Delegacia de Polícia de Santana apreendeu 16 quilos de oxi, no porto Souza Mar, em Santana. O entorpecente era trazido de Vitória do Jari, no Pará, dentro de uma caixa de som. As duas pessoas que faziam o transporte da droga conseguiram fugir a nado. Elas pularam no rio quando perceberam a presença da polícia que fazia campana no porto.
Composição suja e comercialização rentável
Mais barato e mais agressivo do que o temível crack, o oxi apresenta pelo menos duas características que ajudam a explicar seu sucesso de mercado e sua disseminação acelerada. A primeira é seu potencial alucinógeno. Assim como o crack, o oxi pode estimular em um usuário o dobro da euforia provocada pela cocaína. A segunda razão é o seu preço: entre R$ 3,00 e R$ 5,00. Uma pedra de crack custa entre R$ 5,00 e R$ 8,00.
Conhecido pelos acreanos há pelo menos três décadas, o oxi vem se popularizando na região norte e, agora, espalha sua chaga no Amapá, que começou a registrar a presença da droga no início deste ano.
Apesar de ter fincado seus tentáculos malditos em todo o território brasileiro, o oxi ainda é carente de estudos científicos acerca da sua ação sobre o corpo humano. Por ora, sabe-se que, por causa da composição “suja”, formada por elementos químicos agressivos, ele afeta o organismo mais rapidamente. A única pesquisa conhecida sobre a droga – conduzida por Álvaro Mendes, da Associação Brasileira de Redução de Danos, em parceria com o Ministério da Saúde – acompanhou cem pacientes que fumavam oxi. E chegou a uma terrível constatação: a droga matou um terço dos usuários no prazo de um ano.
Mas, além do risco de óbito no longo prazo, seu uso contínuo provoca reações intensas. São comuns vômito e diarréia, aparecimento de lesões precoces no sistema nervoso central e degeneração das funções hepáticas.
Por último, mas não menos importante, uma particularidade do oxi assusta os profissionais de saúde: a “fórmula” da droga varia de acordo com “receitas caseiras” de usuários. É possível, por exemplo, encontrar a presença de ingredientes como cimento, acetona, ácido sulfúrico, amônia e soda cáustica – muitos dos itens podem ser facilmente encontrados em lojas de material de construção. A variedade amplia os riscos à saúde e dificulta o tratamento.
O Brasil suspeita, mas não tem certeza, do que é feito o oxi. Saber é o primeiro passo de uma longa batalha contra a nova droga.
Fonte: A Gazeta
19 de junho de 2011
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