Fonte: O Globo
Ex-senador pelo Amapá derrotado nas últimas eleições e aliado de primeira hora do senador Aécio Neves (PSDB), o tucano João Bosco Papaléo Paes ganhou de presente um cargo no Conselho de Administração da Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig), estatal controlada pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Mesmo vivendo em Macapá (AP), capital localizada a 3,1 mil quilômetros de Belo Horizonte, o tucano receberá R$ 6.160,00 todos os meses para participar das reuniões do conselho, que ocorrem, em média, a cada 60 dias.
Revelado pelo jornal Estado de Minas, o caso gerou uma reação da oposição na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que pretende pressionar o governo a explicar em comissões da Casa os critérios que levaram à indicação do político. Médico cardiologista, Papaléo Paes tem trajetória marcada por uma atuação voltada para questões de saúde e previdência social, tanto em comissões do Senado quanto em discursos. Nenhuma das 99 proposições apresentadas pelo político entre 2003 e 2010 trata de assuntos relacionados a gás ou energia.
A ata da reunião de indicação de Papaléo Paes mostra que ele não participou nem mesmo do encontro em que foi indicado para o cargo. O político é alvo de um inquérito do Ministério Público no Amapá, onde foi indiciado por uso de documentos falsificados. O caso estava até fevereiro deste ano no Supremo Tribunal Federal (STF), por causa do foro privilegiado de senadores. Depois que Paes perdeu as eleições, o ministro Ricardo Lewandowski declinou da competência de julgamento e remeteu o inquérito ao Tribunal de Justiça do Amapá.
O senador Aécio Neves (PSDB) é apontado nos bastidores como padrinho da indicação do político ao cargo, o que sua assessoria de imprensa nega. Papaléo Paes faz parte do grupo ligado ao tucano mineiro na disputa pelo comando do PSDB, contra os apoiadores do paulista José Serra. A indicação teria sido avalizada pelo governador mineiro e afilhado político de Aécio, Antônio Anastasia (PSDB). Por intermédio da assessoria de imprensa, o GLOBO perguntou ao governador quais os atributos que qualificam Papaléo Paes para indicá-lo ao cargo. A assessoria informou que todas as questões relacionadas ao caso seriam respondidas pela Cemig.
Em nota oficial, a Cemig errou a grafia do nome do novo conselheiro da Gasmig, chamando-o de "Papaléo Novaes", e informou que a indicação se deu "em função da inquestionável liderança exercida pelo ex-senador no Norte do País". Para justificar a escolha, a empresa citou dados relacionados à sua atuação com energia elétrica no país, e não à Gasmig, empresa voltada exclusivamente para operações de gás.
De acordo com o último Balanço Social divulgado pela Gasmig, não há previsão em 2011 de qualquer iniciativa de expansão de atendimento de gás para além do território mineiro. O documento informa que o desafio neste ano é aumentar o número de clientes em torno da estrutura já construída no estado, com foco nos segmentos residencial e veicular. As principais acionistas da Gasmig são a Cemig, com 55% das ações, e a Gaspetro, pertencente à Petrobras, com 40%.
Em maio deste ano, o ex-vice-presidente e ex-senador Marco Maciel (DEM-PE) foi nomeado pelo prefeito de São Paulo Gilberto Kassab para os conselhos administrativos de duas empresas municipais a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e da SPTuris (São Paulo Turismo). Ganharia R$ 12 mil mensais para participar de uma reunião mensal em cada órgão, mas declinou do convite diante da repercussão negativa do caso.
Durante a tarde desta segunda-feira (6), o GLOBO tentou falar com o ex-senador Papaléo Paes, mas ele não foi localizado. Assessores do diretório do PSDB em Macapá não retornaram as ligações.
7 de junho de 2011
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