Por Alcinéa Cavalcante
Com 76 anos de idade, dona Josefina Saraiva da Silva ainda tem saúde e disposição para administrar a casa onde mora com outras 19 pessoas — quatro filhas, um genro, nove netos, cinco bisnetos e dez cachorros. "Aqui, quem manda sou eu", diz ela. A casa de dona Josefina é o retrato de tantas famílias macapaenses que vivem aglomeradas no mesmo espaço.
De acordo com dados do Censo 2010, divulgados na última quinta-feira (2), Macapá é a capital com a maior porcentagem de domicílios onde moram oito ou mais pessoas. Enquanto a média nacional é de 2,1%, na capital do Amapá, 8,2% das casas tem oito ou mais moradores. São 7.811 domicílios nessas condições.
O tamanho dos terrenos urbanos, geralmente com 15 metros de frente por 30 de fundos, é outro fator que ajuda as famílias a ficarem juntas. À medida que a renda familiar vai aumentando, o tamanho da casa também aumenta. Cada filho que se torna independente financeiramente trata logo de construir mais um quarto no domicílio. Quando casa, faz o famoso "puxadinho" ou uma casinha nos fundos ou uma ao lado da casa principal.
Com dona Ivanete Almeida dos Santos foi assim. Ela mora com o marido e um casal de filhos na casa principal. Ao lado, no mesmo terreno, foi construída uma casa menor que abriga sua filha mais velha, o genro e o neto. Ninguém pede licença para entrar na casa do outro, mexer nas panelas, abrir a geladeira. Um espaço de pouco mais de um metro separa as duas casas, mas é como se todos morassem juntos.
Na casa de dona Josefina, todos moram juntos, ela herdou a casa do pai. Era uma casa pequena. Separada do marido e depois viúva, Josefina teve que criar os dez filhos sozinha. Quando os mais velhos começaram a trabalhar, não quiseram sair de casa, pois entendiam que tinham que ajudar a mãe a criar os menores e foram ficando.
Dos dez, quatro ainda moram com ela. São as mulheres, que já casaram e já tem filhos e netos. "Morar assim tem mais prós do que contras", diz Fausta Silva, 53 anos, filha de Josefina. Fausta já tem filhos e netos, todos morando com Josefina. Ela conta que todos torcem pela mesma escola de samba, mas na política e no futebol as preferências mudam. "Aqui tem flamenguista, fluminense, botafoguense... dia de jogo fica um ‘secando’ o outro mas ninguém briga. É divertido a grande família assistindo jogo, todos juntos ", diz Fausta.
Dona Josefina diz que adora essa bagunça e não saberia viver sem tanta gente por perto. Uma das netas está montando casa e vai se mudar. "Por mim ela não iria, queria que ficasse sempre aqui, mas não posso amarrá-la", diz a matriarca.
Tantos jovens e crianças circulando, brincando, ouvindo música não perturbam a dona da casa. "Acho que o silêncio é que me perturbaria", conta. Na hora do almoço, são duas mesas, muita panela no fogão e muita louça pra lavar. “Cada um lava sua louça e qualquer um lava as panelas e travessas e arruma a cozinha. É um ajudando o outro”. Para lavar roupa foi montado um calendário, assim cada um tem seu dia de usar a máquina de lavar e o varal.
Quando alguém faz aniversário, a festa é grande, mas só a família participa. "Não dá pra chamar os amigos, vai faltar espaço", diz Josefina. Além dos filhos, netos, genros, bisnetos que moram com ela, tem os outros que moram em outros bairros, mas que vivem mais lá do que nas suas próprias casas.
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