“Cabeça de juiz é igual a bumbum de neném. Ninguém sabe o que vai sair de dentro. Mas a decisão da Justiça é soberana. Nos resta apenas acatar”. Foi dessa forma que o delegado Francisco Roberto Martins, do Departamento de Polícia de Macapá, lamentou a decisão da Justiça amapaense em soltar o médico Agnello Rocha Neto, acusado de erros cirúrgicos que provocaram mutilações em pacientes mulheres no Amapá. Martins está em Belém, onde após semanas seguindo os passos do acusado, participou da prisão dele, na terça-feira (7), em Castanhal (PA).
No início da noite desta quinta-feira (9), Agnello deixou a carceragem da Divisão de Repressão ao Crime Organizado (DRCO), em Belém. A ordem foi emitida à 4ª Vara Criminal de Macapá, pelo juiz José Castelloes Menezes Neto. O pedido de revogação de prisão preventiva foi impetrado pelos advogados de Rocha Neto na quarta-feira (8). O juízo da 4ª Vara de Macapá então solicitou que o Ministério Público (MP) se manifestasse em relação ao recurso. A decisão acabou sendo favorável ao acusado.
A defesa de Rocha comemorou a liberação e disse que a decisão da Justiça foi mais uma vitória para o cirurgião. “O doutor Agnello fez mais de cinquenta cirurgias aqui no Amapá, e desse total apenas quatro mulheres entraram com ações judiciais contra ele. Dentre esses, um processo cível pedindo indenização, e três criminais. Essas mesmas pessoas foram que representaram contra ele no Conselho Regional de Medicina (CRM). Então é um número mínimo. A maioria das pacientes se sentiu satisfeitas”, enfatizou o advogado Cícero Bordalo Neto.
Durante uma coletiva concedida à imprensa local, ele comentou sobre um possível equívoco cometido pelo presidente do CRM do Amapá. “Eu tenho um enorme respeito pelo presidente do CRM, mas ele acabou passando uma informação equivocada à imprensa, alegando que o doutor Agnello não é habilitado para exercer a função. Eu não sei por qual razão ele está fazendo essa afirmação. Os direitos de realizar as cirurgias plásticas pelo meu cliente realmente foram interditados, mas quando recebemos a intimação da decisão aqui no Amapá, nos recorremos ao Conselho Federal de Medicina em Brasília, e por lá nós conseguimos modificar a decisão”, disse.
Sobre as mutilações, Bordalo disse que seu cliente atribuiu a responsabilidade às próprias vítimas. Segundo Rocha, uma delas acabou engravidando logo após a cirurgia de lipoaspiração, e outra não respeitou o pós-operatório, vindo a trabalhar dias depois de ter sido submetida ao procedimento. “Não tem cirurgia que resista a uma gravidez, e uma das mulheres que hoje se diz vítima do doutor Agnello, engravidou logo após a cirurgia. A outra não seguiu a prescrição do doutor Agnello, e não deixou de trabalhar, e por ter um trabalho árduo em uma cozinha de um restaurante, não suportou. Então se aconteceu realmente isso que o meu cliente relatou, não tem operação que suporte”, afirmou Neto.
Ainda de acordo com a defesa do cirurgião, Agnello não estava na condição de foragido, e saiu do estado após sofrer perseguições. “A situação dele se tornou insustentável aqui no Amapá. Por causa disso, ele se viu obrigado a sair daqui, mas nunca deixou de participar dos processos em que está sendo citado”. De acordo com o advogado, Agnello Rocha possui vários certificados de cursos sobre cirurgias plásticas, que foram anexados ao processo.
Porém, Francisco Roberto disse que irá apurar a veracidade dos diplomas. “Nós continuaremos as investigações. Ainda temos dúvidas em relação à veracidade desses documentos. Durante o inquérito policial eles não foram apresentados. E agora apareceram com cópias. Nós estamos pedindo os originais e até o momento não nos foi apresentado. Mediante isso, nós vamos checar junto às entidades emissoras”, alertou o delegado Martins.
Fonte: A Gazeta
10 de junho de 2011
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