Com cara de Harry Potter (como o apelidaram os colegas de Congresso) e jeito tucuju, o recém-empossado senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) não se intimidou com a pompa da chamada Casa Alta, destino legislativo de ex-presidentes da República e de ex-governadores. Logo no primeiro dia de mandato, desafiou José Sarney (PMDB-AP) na disputa pela Presidência do Senado, mesmo com o risco de receber apenas o próprio voto. Não venceu a disputa, mas obteve oito votos e ganhou projeção.
Randolfe já enfrentou Sarney em outra ocasião, em campo de batalha diferente e com a mesma desproporcionalidade de força dos personagens. O ano era 1990 e o então adolescente Randolfe militava nas frentes estudantis contra a primeira campanha de Sarney na disputa por um vaga ao Senado pelo Amapá. Até hoje, o socialista lembra o jingle da campanha, cantado pela maranhense Alcione: “O Amapá vai ter força no Senado”.
A chegada à capital do país foi marcada por reencontros. Além de Sarney, dividirá plenário com o ex-companheiro do movimento estudantil Lindbergh Farias (PT-RJ) e com o antigo desafeto Fernando Collor (PTB-AL). Também na condição de adversário anônimo, participou do movimento dos caras-pintadas, que pedia o impeachment de Collor, em 1992. O reencontro surpreendeu. O alagoano recebeu o novo colega com elogios e tapinhas nas costas.
Collor, que foi eleito o mais jovem presidente do país aos 40 anos, ressaltou a juventude de Randolfe, o mais jovem do Senado — 38 anos. A idade, os óculos e o corte de cabelo inspiraram o apelido de Harry Potter. Senadores e funcionários da Casa já batizaram o novato e Lindbergh contou a brincadeira ao amapaense. Alheio à saga do jovem bruxo inglês, Randolfe escalou o filho Gabriel, 16, para explicar as nuances do personagem e usar o apelido a seu favor.
Uma das primeiras “mágicas” que ele pretende fazer é convencer o deputado Chico Alencar (PSol-RJ) a convidá-lo para uma das peladas que o parlamentar fluminense joga com o cantor e compositor Chico Buarque, no Rio. Fã e colecionador da obra de Chico, Randolfe só discorda do cantor na escolha do time do coração. Enquanto o poeta se veste de tricolor das Laranjeiras, Randolfe é Flamengo. Cita de cor a escalação do rubro-negro de 1980 e acompanha os jogos do Trem Desportivo Clube, de seu estado.
CULTURA
A música de Chico e o futebol da Gávea ocupam apenas uma parte do coração de Randolfe. É pelo Amapá que ele se derrete. Autor de um livro sobre a história do estado, em sua primeira participação na tribuna do Senado, quando pediu votos dos colegas para a eleição à Presidência da Casa, viajou pelos igarapés e pelas cachoeiras da letra da música Jeito tucuju, que fala da cultura amazonense. A música regional do discurso também está nos pés, e o senador é desinibido ao ensinar passos de marabaixo, dança folclórica do Amapá, de origem africana. Apesar da marcada identidade nortista, Randolfe nasceu em Garanhuns (PE), em novembro de 1972. O pai era eletricista e deixou o Nordeste rumo ao Norte em busca de melhores condições de vida, quando o filho tinha 8 anos. “Eu nasci em Pernambuco, mas sou amapaense.”
Fonte: Correio Braziliense
7 de fevereiro de 2011
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