31 de janeiro de 2012

Polícia joga certo e "ganha" R$ 30 mil do jogo do bicho em Macapá (AP)

Após quatro meses de investigação, a Polícia Civil jogou certo e acertou um duro golpe nos contraventores do jogo do bicho de Macapá (AP). Numa ação policial simultânea - e respaldada por ordens judiciais de busca e apreensão -, três centrais de controle dos bicheiros foram fechadas. Além de documentos e quase R$ 30 mil em espécie, máquinas caça-níqueis foram apreendidas. A operação ocorreu na tarde desta segunda-feira (30).

Três soldados da Polícia Militar (PM) foram presos. Eles são acusados de participar ativamente das transações ilegais. Um deles foi surpreendido em frente a uma mercearia, localizada na avenida Euclides da Cunha, no bairro Santa Rita. Segundo a Polícia Civil, o empreendimento era a atividade secundária do local. Era atrás de uma estreita porta de madeira que funcionava o principal "negócio": um espaço para jogatina de máquinas caça-níqueis. Ainda quando era revistado, o soldado negou envolvimento com a máfia dos jogos de azar.

Em outro ponto da operação, na avenida Hugo Alves Pinto, no bairro Perpétuo Socorro, outros dois soldados estavam à paisana - como se tivessem "de bobeira" em frente à uma central do jogo do bicho. Lá, os agentes da Civil apreenderam um cofre, cujo conteúdo não foi revelado. Também foram achados livros-caixa sobre a contabilidade do grupo dono das bancas de apostas naquela comunidade. A importância desse documento requer uma análise minuciosa, já que é considerado um termômetro para que a polícia possa ter ideia da movimentação financeira dos bicheiros.

O terceiro alvo da ação policial era uma residência localizada no bairro Cidade Nova 1. Segundo a polícia, o imóvel é uma das casas de um ex-vereador de Macapá e ex-deputado estadual. Era lá que estava maior parte do dinheiro apreendido na operação. Os agentes e o delegado Luis Carlos Gomes tiveram muito trabalho para contar as centenas de moedas, separadas em pequenos sacos plásticos. Na parede do escritório onde funcionava a central, estava pendurada uma placa com o nome do grupo que domina o jogo do bicho nos bairros Cidade Nova 1 e 2 - Logo acima, um calendário com a propaganda da última campanha concorrida pelo ex-parlamentar. Ele esteve no local. Demonstrando muita tranquilidade - e até bom humor - acompanhou o trabalho policial. A exemplo das outras pessoas detidas na operação, ele foi liberado após prestar depoimento.

Na chegada ao centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp) do bairro Pacoval - para onde a polícia levou as pessoas detidas, máquinas, documentos e dinheiro apreendidos - um dos investigadores que participaram da operação entoava: "hoje deu polícia na cabeça". Era a comemoração pelo sucesso da ação e também uma sátira a um velho bordão do jogo do bicho que informa o nome do animal sorteado. De fato, com a investida policial de ontem não houve premiação para nenhum apostador. Mas, foi apenas ontem. O poder de domínio dos bicheiros é grande porque se instalou há décadas, antes da polícia começar a reprimi-lo. Hoje mesmo o jogo deve continuar.

A investigação é do Núcleo de Operações e Inteligência da Polícia Civil e teve o apoio da Delegacia Especializada de Crimes Contra o Patrimônio (DECCP).

Contravenção

O jogo do bicho e a exploração de lucros de máquinas caça-níqueis são contravenções penais, cujas punições não ultrapassam 2 anos de prisão. Quando a sentença não ultrapassa os 24 meses, a pena pode ser convertida em prestações de serviços comunitários e/ou multa. É por isso que os envolvidos não ficam presos na maioria das vezes. Nas investigações policiais que monitoram a movimentação desses tipos de prática, é preciso que fique configurado outros tipos de crimes - a formação de quadrilha, por exemplo - para que os acusados possam ficar atrás das grades.

O bicho dos militares

A polícia não revelou os nomes dos três soldados enquadrados. O delegado Leandro Totino, que comanda o caso, disse apenas que as investigações apontam os militares como seguranças contratados pelos bicheiros para fazer guardar as centrais, os pontos mais rentáveis – aqueles com maior volume de apostas – e transporte de valores.

Um dos investigadores, que participou ativamente da apuração e pediu para não ser identificado, disse que o envolvimento de policiais com o jogo do bicho ficou mais frequente nos últimos anos porque a grana movimentada diariamente nas bancas de cambistas passou a ser alvo de assaltantes de pequeno e médio porte.

“Os ‘patrões’ do jogo não arriscam perderem grandes somas para os ladrões. E, por isso, eles contratam os seguranças. Os policiais, sejam eles militares ou não, são os preferidos dos bicheiros por causa do porte de arma e também porque, de uma maneira geral, causam mais receio numa possível investida de assaltantes”, explicou o agente. Segundo ele, o “bicho” pago pelos contraventores aos policiais pelos serviços de segurança varia entre R$ 2 mil e até R$ 6 mil.
Os três soldados presos foram entregues no Quartel do Comando Geral. A reportagem fez contato com o estado maior da PM, mas não obteve retorno. Hoje o comando deverá se pronunciar oficialmente sobre a situação dos militares apanhados na operação de ontem.

Fonte: A Gazeta

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