1 de dezembro de 2010

EUA: Saia justa diplomática

Cerca de 250 mil documentos diplomáticos confidenciais do Departamento de Estado dos Estados Unidos vieram à tona no último domingo (28), divulgados pelo site WikiLeaks, revelando detalhes da política externa americana e de como o governo dos EUA deu instruções a seus diplomatas para que atuassem como espiões e recolhessem informações sobre líderes políticos e nas Nações Unidas.

As informações também foram entregues a cinco grandes jornais do mundo, entre eles o americano "The New York Times", o francês "Le Monde", e o britânico "The Guardian". O conteúdo dos documentos diplomáticos secretos revela uma visão pouco amistosa dos EUA com relação a alguns países e líderes mundiais.

Veja o que já foi publicado:

BRASIL

O governo americano considera o Ministério das Relações Exteriores do Brasil como um adversário que adota uma "inclinação antinorte-americana", mas o ministro da Defesa, Nelson Jobim, confirmado no cargo do governo de Dilma Rousseff, é visto como "talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil". As informações dos embaixadores presumem ainda que o Brasil oculta a detenção de "supostos terroristas" para evitar chamar "a atenção da mídia”.

Um documento elaborado em novembro de 2008 pelo então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Clifford Sobel, cita o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) como um obstáculo à criação de uma lei antiterrorismo no Brasil. Além disso, o "cabo" revelado pelo Wikileaks afirma que Brasília voltou atrás no desenvolvimento de uma legislação antiterrorismo por razões "políticas".

ESPANHA

A eleição de José Luis Zapatero à chefia do governo espanhol em março 2004 gerou uma série de despachos sobre pretensões do socialista. Os papéis indicavam temor sobre a retirada de tropas espanholas do Iraque, o que ocorreu em abril.

Os serviços diplomáticos americanos exerceram forte pressão sobre o governo e as autoridades judiciais espanholas para obter o arquivamento de três processos abertos no país contra os Estados Unidos ou militares americanos, segundo o jornal espanhol "El País". De acordo com documentos diplomáticos confidenciais divulgados pelo site WikiLeaks, "a embaixada dos EUA em Madri mobilizou importantes recursos nos últimos anos para frear ou boicotar as causas judiciais abertas na Espanha contra políticos e militares americanos", indicou o "El País".

IRÃ

Os documentos revelam que há uma preocupação específica de alguns países do Oriente Médio, como a Arábia Saudita, Egito e Israel, com relação ao programa nuclear do Irã. Segundo o jornal israelense "Yedioth Ahronoth", Meir Dagan, chefe do serviço secreto israelense no exterior, Mossad, apresentou aos EUA um plano para aplicar um golpe de estado no Irã em 2007.

Além disso, as informações obtidas indicam que o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, sofre de câncer em estágio terminal.

AFEGANISTÃO

Documentos diplomáticos secretos vazados do Departamento de Estado dos EUA que descrevem o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, como "extremamente fraco" e o irmão dele como um corrupto traficante de drogas. "Um homem extremamente fraco que não atenta a fatos mas em vez disso era facilmente influenciado por qualquer um que viesse com um relato, mesmo as mais bizarras histórias ou planos contra ele", segundo uma mensagem sem data publicada pelo jornal britânico "The Guardian".

Segundo um telegrama diplomático americano publicado pelo WikiLeaks, o presidente afegão, Hamid Karzai, ordenou a libertação sem processo de dezenas de criminosos perigosos e tarficantes de drogas pelas forças internacionais.

PAQUISTÃO

Os documentos mostram a preocupação dos EUA com a presença de material radioativo em usinas nucleares do Paquistão, que Washington temia ser usado em ataques terroristas. Há três anos, os EUA vinham tentando remover urânio altamente enriquecido de um reator usado para pesquisas no Paquistão, mas o país se recusou a aceitar a visita de especialistas dos EUA.

ONU

Segundo o jornal britânico “The Guardian”, nos documentos, há solicitações em nome da secretária de Estado Hillary Clinton ordenando a obtenção dos detalhes técnicos dos sistemas de comunicação dos principais funcionários da ONU, entre eles do secretário-geral Ban Ki-moon.

SÍRIA

Segundo textos, os EUA não conseguiram evitar que a Síria fornecesse armas ao Hizbollah no Líbano desde 2006. Após promessa síria de não mandar mais armas ao grupo, os EUA reclamaram de novos envios.

CHINA

De acordo com documento emitido pela embaixada americana em Pequim em janeiro deste ano, órgão do governo chinês comandou a invasão dos sistemas de computador do Google no país, como parte de uma campanha de sabotagem. Os documentos também revelaram que altas autoridades da China, maior aliado da Coreia do Norte, afirmaram a um vice-ministro sul-coreano que a península coreana deveria ser reunificada sob o controle de Seul, em pleno momento de crise e instabilidade entre as duas Coreias.

HONDURAS

Documento de 24 de julho de 2009 diz que a retirada de Manuel Zelaya da presidência de Honduras em junho do mesmo ano "constituiu um golpe ilegal e inconstitucional". O texto contraria versão de que os EUA teriam apoiado o golpe.

GUANTÁNAMO

Textos mostram que os EUA negociaram o destino de presos libertados da base americana de Guantánamo, em Cuba. A Eslovênia recebe a oferta de um encontro com o presidente Barack Obama se o país receber um prisioneiro, enquanto Kiribati, no Pacífico Sul, recebe a oferta de milhões de dólares em incentivos. Bruxelas recebe a informação de que abrigar prisioneiros poderia ser "uma maneira barata de a Bélgica conseguir proeminência na Europa".

PARAGUAI

Os EUA pediram, em março de 2008, informações como "dados biométricos, incluindo impressões digitais, imagens faciais e dados para reconhecimento da íris, e DNA" dos candidatos à presidência do país na épica. A Secretaria de Estado americana relata ainda à Embaixada dos EUA em Assunção uma preocupação com a suposta presença de grupos como Al-Qaeda, Hezbollah e Hamas na tríplice fronteira, entre Brasil, Paraguai e Argentina.

LÍDERES MUNDIAIS

Vários líderes mundiais são citados nos documentos, de forma pouco elogiosa por parte dos diplomatas americanos. O premiê da Itália, Silvio Berlusconi, é tratado como "displicente, vaidoso e ineficiente como líder europeu moderno", além de "frágil física e politicamente”, por causa de suas “festas selvagens”.

Apesar de ser oficialmente o chefe de Estado, a embaixada americana em Moscou diz que Dmitri Medvedev, presidente russo, "é o Robin do Batman, (o primeiro-ministro Vladimir) Putin”. O premiê russo, por sua vez, é visto como um "macho alfa"

O líder norte-coreano Kim Jong-il é descrito como "um camarada velho e flácido" que sofre com o trauma de um derrame. O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, é tratado como "Hitler”. Ao líder venezuelano, Hugo Chávez, coube o adjetivo de “louco”, e ao presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, "aquele velho maluco".

Um dos documentos vazados diz que o Departamento de Estado americano pediu à embaixada em Buenos Aires informações sobre "o estado de saúde mental" da presidente Cristina Kirchner. Segundo o “The Guardian”, os EUA têm de Cristina a impressão de ser "extremamente irritadiça e intolerante a coisas percebidas como críticas".

O presidente francês Nicolas Sarkozy é visto como “suscetível e autoritário", enquanto a chanceler alemã Angela Merkel é definida como "contrária à tomada de riscos e raramente criativa". Seu ministro das Relações Exteriores, o alemão Guido Westerwelle, teria uma "personalidade exuberante", mas pouco conhecimento de política externa.

O presidente afegão, Hamid Karzai, é descrito como "extremadamente frágil" e passível de acreditar em teorias conspiratórias. Já o líder líbio, Muamar Kadafi, é "quase obsessivamente dependente de um pequeno núcleo de funcionários de confiança" e aparentemente não pode viajar se não for acompanhado de uma "voluptuosa" enfermeira ucraniana.

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