Por Nathália Clark*/Greenpeace
O Rainbow Warrior foi até o Estado do Amapá para mostrar que existem alternativas bem sucedidas de economia florestal. O arquipélago de Bailique, um distrito de Macapá, foi o lugar escolhido para a tripulação do navio conhecer a Amazônia que dá certo. Na ilha mais habitada e melhor estruturada da região, a Vila Progresso, encontramos iniciativas sustentáveis que saltam aos olhos.
Com a economia baseada na pesca e no extrativismo – principalmente de açaí, a vila abriga cerca de 4.000 pessoas e tem na Escola-Bosque um de seus grandes trunfos. Criada em 1998 na gestão do governador João Capiberibe, hoje senador, a proposta para a escola era proporcionar aos alunos um método de ensino socioambiental, adequado à realidade local.
Nos últimos oito anos, porém, esse projeto inicial foi abandonado e a escola seguiu os rumos do ensino tradicional. Hoje, a diretora Silvani, com apoio de alguns professores, tenta resgatá-lo.
“Os alunos de hoje não têm a mesma visão de quem começou aqui e acompanhou o início de tudo. Eu entrei em 1999 e concluí o ensino médio aqui. Sei como era. Nos últimos anos, muita coisa deixou de existir, como a feira de ciências, por exemplo. Nosso objetivo como gestores é resgatar esse modelo. Temos um projeto de horta comunitária e outras atividades ligadas à valorização da floresta, como conscientização sobre a utilização de tintas e corantes naturais, sementes, etc”, diz Silvani.
O professor de ciências, Samuel, explica que começar a conscientizar pelas crianças é mais fácil, pois elas são mais abertas a aprender. “Custa R$0,25 o pé de palmito, já 30 kg do fruto do açaí custam de R$ 40,00 a R$ 60,00. Então, temos que educar adequando o ensino à realidade local. Nós percebemos o interesse das crianças nesse tipo de aprendizado e elas acabam por influenciar também os pais.”
A Escola-Bosque é um orgulho para a comunidade. É um modelo também para fora do Bailique e na Amazônia em geral. Junto com o projeto da escola, um hotel de selva foi construído, mas nem chegou a ser inaugurado. Hoje, suas instalações estão deterioradas, e junto com elas a esperança de quem ajudou a construir e viu naquilo mais uma perspectiva de renda para a vila, mantendo a comunhão com a floresta.
“Fazer o hotel foi uma decisão da própria comunidade. Percebemos que a economia se movimentaria com o aumento do turismo, poderíamos vender melhor nosso peixe, nossos frutos, e as pessoas iriam querer continuar vivendo aqui no Bailique. Agora vemos nosso suor e nosso dinheiro jogados fora. Ao mesmo tempo, a escola está aí, dando certo”, diz Florivaldo, presidente da Associação da Colônia de Pescadores e um dos operários à época da construção do hotel.
Segundo Ana Euler, diretora do Instituto Estadual de Florestas (IEF), a idéia de desenvolvimento no Bailique é outra, diferente do modelo predatório de alguns lugares na Amazônia. “As pessoas aqui querem aumentar seus lucros, mas mantendo a floresta em pé. Elas querem o futuro com o uso da renda que vem da floresta. São mais de 50 mil hectares de floresta que proporcionam uma grande gama de recursos naturais, e eles sabem aproveitar isso.”
Vendo as iniciativas da Vila Progresso, percebemos que as crianças são de fato a esperança da comunidade na manutenção de um modelo de desenvolvimento sustentável. Os professores apoiaram a proposta de lei do Desmatamento Zero, e assinaram a petição. Já os alunos, deixaram seu recado para a presidente Dilma, e escreveram mensagens num imenso banner que será entregue na conferência Rio +20.
A professora de artes Williane resumiu muito bem o que move a cultura do arquipélago em uma única frase: “A natureza não tem cópia, devemos preservar a original.” E que assim seja por mais alguns anos.
* Nathália Clark está a bordo do Rainbow Warrior
7 de maio de 2012
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