Fonte: Jornal Folha do Estado
Nos últimos 50 dias, a Assembleia Legislativa do Estado do Amapá vem abrindo a caixa de ferramentas contra o governo Camilo Capiberibe (PSB). Os ataques tornam-se mais virulentos na medida em que as eleições municipais vindouras deixam o campo da subjetividade e passam a se materializar nas manobras orquestradas, sobretudo, pelo reeleito presidente do legislativo estadual, deputado Moisés Souza (PSC). É o social cristão, segundo fontes ligadas ao Palácio Nelson Salomão (sede do legislativo amapaense), quem encabeça a avalanche de denúncias, convertidas em Comissões Parlamentares de Inquérito, contra a gestão do socialista. Com esses malabarismos políticos, ele almeja desestabilizar o governo para viabilizar, por meio de acordos sub-reptícios firmados nos escaninhos da AL, um processo de impeachment contra Camilo visando tomar-lhe o lugar.
Parece uma dessas “teorias da conspiração” que surgem em profusão geralmente para explicar o inexplicado. Mas basta avaliar os últimos acontecimentos envolvendo governo do Estado e Assembleia Legislativa para se tirar duas conclusões: Camilo Capiberibe contrariou interesses inconfessos de deputados estaduais (ou seja, não cedeu aos múltiplos pedidos para loteamento de cargos nas secretarias do governo); Moisés Souza ambiciona tornar-se governador do Amapá, mesmo que por meios transversos, ou pavimentando uma possível candidatura em 2014 construindo hoje uma imagem de “paladino da moralidade e dos bons costumes”, embora este seja um figurino inadequado à sua silhueta.
Trajetória iniciada com apoio do grupo político de Waldez Góes
Quem é Moisés Reategui de Souza? Esta é a pergunta-chave para se delinear o perfil do atual presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Amapá. Quando disputou pela primeira vez uma vaga para o parlamento amapaense, o então empresário era aliado de algibeira e habitué da cozinha do à ocasião governador Waldez Góes (PDT). Essa proximidade quase familiar, rendeu ao jovem candidato o apoio tão ansiado de que precisava para catapultar a campanha que naqueles meses de eleições gerais vinha claudicando.
Em troca desse suporte extraoficial do governo Góes, Moisés prometeu fidelidade incondicional ao Palácio do Setentrião e votação sempre favorável aos projetos do Executivo em trâmite na AL. E foi graças a esse providencial “apoio” do grupo político de Waldez Góes que Souza ficou em sexto lugar na lista dos dez mais votados nas eleições de 2006. Conseguiu 5.841 votos (1,94% dos votos válidos), ficando atrás de experientes “caçadores de votos” como Dalto Martins (PMDB), Eider Pena (PDT), Francisca Favacho (PMDB) e Roberto Góes (PDT).
De 2007 a 2008, Moisés Souza compôs a “bancada governista” na AL, tornando-se conhecido por sua subserviência às determinações do governo Waldez Góes. Aparecia pouco, geralmente era ofuscado por deputados mais astutos – e afeitos – aos mecanismos legislativos. Adepto de discursos entremeados por frases de efeito e literatismos desnecessários, Souza conseguiu chamar para si as luzes da ribalta, tornando-se figurinha carimbada no noticiário político local.
Os apartes provenientes dele eram sempre pontuados por citações proferidas em tom empolado, resultado de um esforço desproporcional para ser visto como um “homem de letras”, um intelectual, um estudioso. Com essa estratégia (trabalhar a imagem de homem probo, culto e circunspecto) saiu do baixo clero da AL e ganhou papel de destaque no principal elenco dos deputados estaduais.
Até o segundo trimestre de 2008, Moisés Souza foi hábil em dissimular a voracidade de sua ambição política. Mas, contrariando todos os prognósticos decidiu disputar a Prefeitura de Macapá mesmo sem o apoio da maioria do legislativo estadual, àquela altura toda comprometida com a candidatura de outro deputado da base governista, Roberto Góes.
Aconselhado a desistir da empreitada, inclusive pelo então presidente da AL, deputado Jorge Amanajás (PSDB) e pelo próprio Waldez, Souza não titubeou na resposta. Irredutível em sua decisão, fez uma campanha medíocre, que rendeu-lhe exatos 8.492 votos válidos, pouca coisa à frente de outra candidata, a deputada federal Fátima Pelaes (PMDB), que obteve 8.429 votos. Ambos ficaram em quinto e sexto lugares.
Derrota nas urnas converte Moisés em adversário do governo
Inconformado por não ter recebido o apoio do governador Waldez Góes, a quem serviu com irrepreensível servilidade por quase dois anos, Moisés Souza mudou drasticamente seu comportamento enquanto parlamentar na Assembleia Legislativa do Amapá. Iniciou a legislatura de 2009 aproximando-se da bancada de oposição, na época composta por dois deputados do PSB, Camilo Capiberibe e Ruy Smith, o que surpreendeu tarimbados observadores políticos, e gerou um cem número de hipóteses, das mais sensatas às desprovidas de embasamento.
Embora minúscula, a bancada oposicionista na AL promovia estragos abissais nas hostes do já combalido governo Waldez Góes, alvejado por sucessivas operações da Polícia Federal, e naufragado em mar de denúncias de corrupção. Souza, cuja imagem esteve intimamente atrelada ao grupo de Góes, percebeu o fim inexorável e melancólico do “mestre” a quem havia servido com indulgência. Antes do malogro definitivo do “Titanic”, Souza acenou em direção ao batelão dos oposicionistas e passou a desferir golpes cada vez mais contundentes contra o antigo aliado.
Escolheu como alvo, a priori por conta de interesses pessoais contrariados, outro expoente do governo Góes, o secretário de Estado da Educação, Adauto Bitencourt. Moisés Souza não poupou munição, escolheu os petardos mais letais e centrou fogo nos contratos firmados entre a SEED e as empresas de vigilância Serpol, do empresário Carlos Humberto Montenegro, e a Amapá VIP.
Naquela ocasião, investigações do Ministério Público Estadual, capitaneadas pelo promotor de Justiça Edér Abreu, revelaram que Montenegro “pagava propina para o secretário Adauto Bitencourt, em troca de continuar fornecendo os serviços de vigilância da SERPOL. E que essa 'gorjeta' girava em torno de aproximadamente R$100 mil por mês”.
Embora no passado dividisse com Bitencourt momentos de confraternização na residência oficial do governo do Amapá, ocupada por Waldez e demais familiares, não hesitou um segundo em converter o parceiro de convescotes em inimigo figadal e criar para si uma causa que lhe garantisse ampla visibilidade midiática.
De “neo oposicionista” a presidente da AL, agora Moisés quer o governo
Convenientemente próximo aos oposicionistas Camilo e Smith, Moisés Souza desfraldou sua mais nova bandeira de luta, transformando o plenário da AL em palanque pessoal, de onde fez consecutivas denúncias de malversação, fraudes, peculato e formação de quadrilha contra Bitencourt, àquela altura encurralado na SEED. Os tirombaços desferidos por Souza contra o titular da Educação igualmente atingiam de tabela a gestão do pedetista Góes e asseguravam, dessa forma, o sucesso do plano pessoal do social cristão.
As investidas de Moisés Souza, um “neo oposicionista” em visível ascendência no cenário político estadual, não eram bem avaliadas pelos dois deputados do PSB. Camilo Capiberibe e Ruy Smith detectaram, de imediato, o oportunismo do colega de parlamento, mas, optaram em deixá-lo à vontade. Perplexidade inicial superada, os demais deputados e deputadas também resolveram tratar Souza com condescendência, princialmente porque um novo ano de eleições gerais estava às portas e era necessário redobrar a atenção e as visitas às bases.
Ao longo de quatro anos (2007-2010), entremeado com uma disputa majoritária à Prefeitura de Macapá, Moisés Souza aprendeu que uma campanha eleitoral não termina com a eleição ou reeleição do candidato e, sim, da continuidade dela no mandato (re) conquistado. Uma lição valiosa que muitos políticos, embora com anos de estrada, demoraram a absorver. Para dar continuidade à carreira política, Souza montou considerável infraestrutura (produtora, gráfica e estúdios de gravação) e disputou a reeleição em 2010 com enorme vantagem sobre concorrentes históricos.
Confirmada a reeleição com 6.297 votos, à frente inclusive de deputados mais antigos como Eider Pena e Manoel Brasil, Moisés Souza passou a costurar nos bastidores a pré-candidatura à presidência da AL. Para avalizar esse projeto político pessoal contou com o imprescindível apoio do candidato derrotado ao governo e já ex-deputado Jorge Amanajás. Após longas e reservadas reuniões, Souza saiu para disputar o cargo sabendo-se vitorioso, independente do resultado. A eleição, envolta em manobras nebulosas, foi obtida por 9 votos a 0, num total de 24 deputados.
É utilizando-se desses meios nada convencionais que Moisés Souza planeja chegar ao Palácio do Setentrião. Se conseguir, não estará sozinho. Levará consigo os mesmos políticos que em sete anos e três meses contribuíram, direta ou indiretamente, para deixar o povo amapaense na indigência.
Deputados conspiram queda de governador
Desde quando a Assembleia Legislativa aumentou em 2012 seu próprio orçamento inicial para R$ 60 milhões, no final do ano passado, o presidente Moisés Souza vem mostrando sua intenção política de desgastar e dificultar a vida do governo do Estado. Após a votação da Lei Orçamentária Anual (LOA), Moisés passou a afirmar abertamente, inclusive em meios de comunicação, que instalaria dez CPIs contra o governo e que com isso iria afastar o governador Camilo Capiberibe.
O presidente da Assembleia também passou a ameaçar de exonerar secretários de Estado que se manifestassem em redes sociais. Não bastasse tais ameaças, Souza anunciou no ar em programa de rádio a criação da CPI da Amapá Previdência (Amprev) e criou factoide anunciando uma falsa visita da Polícia Federal ao instituto de previdência. Dias depois, o deputado Zezé Nunes (PV), parlamentar do baixo clero, assinou requerimento da CPI da Amprev. Uma semana depois outro deputado, Valdeco Vieira (PPS), apresentou requerimento da CPI da Saúde que podem ser o inicio de seu plano para afastar o governador Camilo.
Ataques ao senador Capiberibe
No inicio da semana passada o presidente Moisés Souza reuniu 20 deputados na Assembleia para repassar a eles a denúncia requentada pelo radialista Pedro Da lua contra o senador João Capiberibe e afirmou que a direção política era de ataques ao senador. Para bom conhecedor da política amapaense, a ação de Moisés Souza de fazer a AL se enfrentar com senador Capiberibe pode ser um erro.
Afinal o histórico dos embates do senador Capi com seus adversários, como o ex-deputado Fran Junior e o ex-senador Gilvam Borges (Capi derrotou os dois) pode ser um termômetro para onde Moisés, por sua sede de poder, pode levar todos deputados da AL.
21 de março de 2012
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