Fonte: O Globo
Até recentemente visto como um partido radical de esquerda, o PSOL está começando a mudar. Registrada oficialmente em 2005, a legenda chega este ano à sua segunda eleição municipal com reais chances de eleger prefeitos em duas capitais — Belém e Macapá — e um acalorado debate interno sobre a ampliação das alianças pragmáticas com legendas sem qualquer afinidade programática. O cerne desse embate é justamente a campanha do candidato Clécio Vieira, pelo PSOL, à prefeitura de Macapá.
Capitaneado pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), o partido se uniu na capital do Amapá com PPS, tradicional aliado dos tucanos, PV, PCB e, para surpresa de alguns, com três partidos nanicos sem qualquer definição ideológica: PTC, PRTB e PMN. Cada um dos três tem um deputado federal, todos do baixíssimo clero da Câmara. Entre eles, Jaqueline Roriz, filha do ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz.
A aliança na capital do Amapá provocou críticas dos setores mais radicais do partido, que já tem tendências e grupos internos, como no PT. Integrante da ala Corrente Socialista dos Trabalhadores, o ex-deputado federal Babá é uma das principais vozes contrárias ao acordo, que, segundo ele, teria sido rejeitado por 40% dos participantes do congresso da legenda.
— Isso é seguir a lógica que destruiu com o PT. Esse tal arco de alianças foi se ampliando de tal forma que hoje o PT está com o Paulo Maluf em São Paulo e com Sérgio Cabral e Eduardo Paes no Rio. Na verdade, eles querem uma política que conduza a um PT disfarçado. Isso nós não queremos no PSOL. Fomos expulsos do PT por manter nossas origens de não concordarmos com alianças com partidos da burguesia ou com esses pequenos partidos que na verdade são siglas de aluguel — opinou Babá.
A opinião do ex-deputado, porém, vem se tornando crescentemente minoritária no partido. Hoje um dos principais quadros da legenda no cenário nacional, o senador Randolfe Rodrigues lidera o movimento pela ampliação das alianças. Já apontado como provável pré-candidato do partido à Presidência da República em 2014, o jovem Randolfe vem trabalhando intensamente para diminuir o radicalismo no partido.
— Desde seu nascimento, o PSOL debate sobre o “vir a ser”: se seremos um PSTU turbinado ou se seremos uma alternativa real à esquerda. Se o PSOL sair bem das eleições deste ano, poderemos ser uma síntese que represente essa alternativa — diz o senador.
Apesar de apoiar a decisão da sigla tomada semana passada de proibir alianças com PSDB, DEM, PMDB, PR, PTB e PP, Randolfe não vê problemas em firmar alianças com os nanicos:
— Alguns desses partidos cumprem esse papel de partido de aluguel e até se vendem; outros, não. O PSOL tem de ter firmeza de princípios e flexibilidade na prática. Há espaço político enorme para uma posição política de esquerda.
A expectativa no partido é que as eleições de outubro sacramentem o rumo da legenda nos próximos anos. Caso o PSOL consiga bom resultado em Macapá e Belém, onde lançou Edmílson Rodrigues em aliança com o PCdoB, a tendência é que a tese mais pragmática prospere.
Para o presidente da legenda, deputado Ivan Valente (SP), a ampliação das alianças é um processo natural.
— Em 2008, o PSOL era uma antítese do PT. Era muito pequeno, mas hoje conseguiu se afirmar nacionalmente, e aí você pode abrir algumas exceções que não comprometem o partido.
Também dirigente do partido, Milton Temer (RJ) faz parte dos entusiastas das alianças locais, mas considera fundamental a existência de críticas internas a elas:
— Existe um embate e estou entre os que se alinham inteiramente com a operação que Randolfe faz no Amapá. Isso não é nenhuma tragédia, não vai mudar a linha ideológica do Clécio. Ter um caminho mais amplo é diferente de rendição — completou Temer.
22 de julho de 2012
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