Fonte: A Gazeta
Amapaenses estão assustados com a possibilidade de uma superbactéria ter se instalado no Amapá e estar vitimando pacientes de UTIs e centros cirúrgicos. A primeira suspeita foi sobre o zelador do parque zoobotânico, Odino Aires Trindade (contaminado por fezes de animais), depois a secretária estadual de Comunicação, Jacinta Carvalho, e na segunda-feira (5), o médico e jornalista Leonai Garcia, que teve quadro de saúde agravado após infecção por bactéria estafilococos.
Os três pacientes tiveram passagem pelo Hospital São Camilo antes de falecerem. A coincidência, no mínimo curiosa, já deveria ter gerado investigação interna do setor de controle de infeção hospitalar (CIH), responsável pelo monitoramento e orientação das contaminações oriundas de ambiente hospitalar.
Até agora, a direção do São Camilo silenciou sobre as mortes ocorridas. O médico responsável pela Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Claudio Leão, tem evitado falar com a imprensa a respeito do assunto. As desconfianças que recaem sobre a possibilidade de contaminação de pessoas internadas no hospital não podem ser tratadas como fatos isolados, porque embora ainda não existam informações concretas, há fortes indícios de que algum tipo de contaminação está presente no local.
Em novembro do ano passado, a Gazeta publicou o primeiro caso de morte provocada por infecção bacteriana, confirmado pela Coordenadoria de Vigilância em Saúde (CVS), ligada à Secretaria de Saúde do Estado. A vítima foi um homem de 82 anos, que era mantido há seis meses em regime de isolamento. Ele apresentava os mesmos sintomas de pacientes que vieram a óbito nesta semana: estava debilitado e não respondia ao tratamento convencional.
Um segundo idoso, de 60 anos, também teria sido contaminado no mesmo hospital pela superbactéria. O contágio ocorreu assim que ele deixou a Unidade de Terapia Intensiva e foi tratado em regime de quarentena. À época, os técnicos da Secretaria Estadual de Saúde atribuíram as ocorrências à superbactéria chamada KPC (Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase).
Semelhança de casos
Não só o período das informações coincide (novembro/dezembro), mas também a unidade hospitalar em que foram internados os pacientes que vieram a óbito e as condições a que foram submetidos.
Em entrevista a um programa de rádio, o médico Uilton Tavares sustenta a hipótese de que as UTIs dos hospitais precisam melhorar as condições de higiene. “Os hospitais se transformaram em um grande shopping Center, com as visitas constantes. E deveria ser o contrário, para se ter um controle de infecção hospitalar é preciso que se tenha o mínimo de circulação de pessoas. A maioria dos hospitais do Estado possui mais de 50 anos, ou seja, existe uma série de fatores inapropriados: os esgotos não funcionam, os condicionadores de ar não passam por manutenção constante, os materiais estão muito velhos e os próprios familiares, ao transportar objetos para os hospitais, oferecem riscos aos pacientes”, avaliou.
O secretário de Saúde, Edilson Pereira, ponderou ao afirmar que “não tem como dizer se uma bactéria única está causando as mortes”. Mas admitiu que devido à semelhança entre os sintomas das vítimas, a Sesa tem investigado a relação entre um caso e outro. Ele disse ainda que está solicitando informações sobre os relatórios de endemias dos municípios.
“Nós vivemos em uma região bastante endêmica, com propensão à dengue, malária, tuberculose. E esses locais passam por monitoramento constante dos órgãos ligados à Sesa”, disse Pereira.
Mesmo tranquilizando a população quanto a incidência da provável superbactéria, em 2010, a resistência do microorganismo já era discutida pelos profissionais da área de saúde. Médicos eram cautelosos em afirmar o aumento no número de casos da doença, mas diziam que a susperbactéria só evoluía em ambientes hospitalares e em pacientes debilitados.
Ainda no ano passado, o ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão, confirmou 22 mortes no Distrito Federal e uma no Paraná. Além de outros casos de pacientes infectados em quatro estados da federação. “Desde que a ameaça surgiu, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a retenção da receita médica na compra de antibióticos para tentar impedir a automedicação e o uso abusivo de medicamentos”, frisou o ex-ministro à época.
Prevenção
Em tese, o controle da infecção bacteriana é simples: pode ser feito a partir do uso de luvas e aventais, até a simples higienização das mãos. A dificuldade é que nem sempre as orientações são seguidas.
7 de dezembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário